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Poema de Natal


Poema de Natal

Vinicius de Moraes


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

O vinil nosso de cada dia


Alguém aí perguntou "que vinil"? Estou falando do disco de vinil mesmo, aquele bolachão preto também conhecido por long-play, ou LP, o bom e velho LP do povo. Ele escapou da morte anunciada e completou 60 anos em novembro de 2008. Ah, por quê decretar o fim do disco de vinil? Ceifaram-lhe a vida antes mesmo de entrar na menopausa. Mas esse tom melodramático adotado por mim não precisa ser levado mais adiante, já que o vinil parece estar ressurgindo das cinzas, talvez um pouco mais timidamente que a Fênix... Mas agora já é fato: o vinil voltou com tudo mesmo. Isto é, aqui no Brasil, pois na Europa ele nunca chegou a sair totalmente do mercado. Mas o número de apreciadores do vinil aumenta a cada dia por aqui, e não apenas entre os mais velhos como também entre os bem jovens. O disco de vinil tornou-se definitivamente algo cult e está em alta como há muito tempo não se via. Eu nunca abandonei meus long-plays e testemunhei o desprezo com que o vinil foi tratado nos últimos dez anos. Eu, ao contrário, nunca me defiz dos meus e nunca parei de comprá-los. Agora, quem diria, a mais nova moda é ouvir LP. Esse mundo dá voltas mesmo... Enquanto isso as vendas de CD continuam em declínio e as lojas desaparecendo.


Já os famosos "bolachões" não desapareceram, como muitos pensam. Só não estão estavam tão à vista como antes. Dado como morto pela indústria, banido das lojas (que pecado!) e há até pouco tempo apenas um traço nos índices de consumo musical, o vinil girou, girou e deu a volta por cima. Agora, prestes a completar 61 anos de vida, ele sobrevive nas prateleiras de colecionadores ao redor do mundo. Salvo da morte principalmente pelas mãos dos DJs, o vinil. Nada mal para um ícone musical de tempos passados que já estava se transformando em peça de museu.


Nascido em novembro de 1948 (seu criador foi Peter Goldmark), o disco de vinil acompanhou praticamente todos os grandes momentos da música pop - o surgimento dos Beatles, o fogo de Jimi Hendrix, a poesia de Bob Dylan, a contracultura, o psicodelismo, o punk rock, a discothèque etc. Mas com a chegada do CD (compact disc) nos anos 80, e sua posterior popularidade, ele foi sendo deixado de lado gradativamente. Para a indústria do disco, era assim que tinha que ser: o CD era mais prático, ocupava menos espaço, tinha uma excelente qualidade de reprodução, possibilitava um armazenamento maior de músicas e - a gota d'água - não arranhava! Num piscar de olhos, o vinil foi sendo empurrado para o canto das lojas e depois erradicado totalmente delas. Grandes cadeias, aqui e lá fora, simplesmente deixaram de comprar discos de vinil. Parecia o fim. Porém nem todas as pessoas se conformaram com essa morte anunciada. E foram os DJs e o público que os segue, os principais responsáveis pela salvação do vinil. (Não esqueçamos também os colecionadores de plantão e amantes do LP, como eu aqui).


Colecionar compact discs? Parece piada quando comparado a colecionar LPs. Lavar o disco, admirar sua capa como se fosse um pôster, evitar riscos, cuidar da vitrola, arrumar a agulha da vitrola, acertar o pitch, trocar de lado... Isso é que é hobby de verdade. Mesmo com todos os benefícios que a era digital proporcionou e da inegável praticidade de manuseio e armazenamento, nem o CD e nem o iPod proporcionam ao ouvinte o gostoso ritual de audição de um LP - costuma ser longo demais para ser escutado de uma só vez e não inclui o intervalo da troca de lados. Mais: a "bolachona" nunca vai oxidar. Quando tratada com carinho, vira um documento para o dono. "O vinil é uma coisa real" - disse o DJ Marky Mark - "Você pega, sente, tem contato direto. É como uma mulher".

Travolta é Travolta. E pronto.

Li na internet um absurdo: que Simon Cowell, jurado do programa Britain's Got Talent (aquele que revelou Susan Boyle) quer fazer um remake de Saturday Nigth Fever. Se é verdade ou boato não sei, mas sou capaz de apostar que a idéia não vai pra frente. Os Embalos de Sábado à Noite é o tipo de filme que não permite remakes. É produto de uma época específica, singular, não faz o menor sentido refilmá-lo. Até porque o papel que foi de John Travolta seria de... Zac Efron! Por Deus, ele JAMAIS poderia ser Tony Manero. Travolta é único. Zac tem cara de emo, de ídolo teen, argh. Nem de longe convenceria como Tony Manero. Ele ficaria bem em um remake de Brüno! (risos) É cada uma que inventam...

E por falar em John Travolta, li também no mesmo site uma manchete patética: "Cada vez mais recluso, John Travolta aparece acima do peso em Miami". E abaixo dizia: "Ator de 55 anos foi visto comendo cheeseburguer e fritas em lanchonete". Achei tão idiota que não merecia nem comentar, mas como sou fã confesso de Travolta, não resisti. Puxa vida, o cara perdeu um filho recentemente, obviamente deve estar passando por um momento doloroso, triste. Que mal há em comer cheesburguer e batata frita? Ele é adulto (bem adulto por sinal), vacinado e não deve nada aos chatolinos politicamente corretos de plantão. É um ser humano, ora. Passando por uma depressão ou não, ele tem direito de comer junk food. Acho revoltante o modo como a mídia (e a sociedade atual) trata os artistas e seus hábitos alimentares. Já não se pode mais fumar, nem beber e nem comer! Aonde vamos parar? Deixem Travolta em paz! E se querem um rapazinho sarado, depilado, delicado, que não beba e não fume e viva sob dieta alimentar rígida (provavelmnete à base de saladinhas e suquinhos naturais), fiquem com Zac Efron. Mas nada de tentar refazer Saturday Night Fever.


Vivendo a vida com Manoel Carlos

Só mesmo meu guru novelístico para me animar a publicar mais um post em meu blog, há tanto tempo abandonado. Não resisti. Ontem assisti a estréia de Viver a Vida, nova novela das 8 de Manoel Carlos. E (pelo menos para o primeiro capítulo) o saldo não poderia ter sido mais positivo. Aliás, a trama promete ser tão boa quanto os sucessos anteriores de Maneco, exceto Páginas da Vida (para mim a mais fraca de suas novelas). Apesar de termos pela primeira vez uma Helena jovem, parece que a história não vai deixar a desejar. O universo feminino que o autor tanto gosta de retratar está lá: há mulheres fortes, fracas, felizes, amargas, amadas, mal amadas, modernas, problemáticas, realizadas, enfim, toda a vasta gama que povoa as histórias de Maneco.

As chamadas "crônicas do cotidiano" marcaram o estilo que consagrou Manoel Carlos nas três últimas décadas, com novelas que caíram facilmente no gosto do público e que tornaram seu trabalho indefectível na teledramaturgia nacional. Mas sou suspeito para falar, já que minha monografia de conclusão de curso foi justamente sobre... as telenovelas de Manoel Carlos! Suas tramas são revestidas de cotidianidade, compondo regras de comportamento, de parentesco, de afetos e desafetos, e organizando estas relações de uma forma que diz respeito ao sistema de sociabilidade de seu público. (Muitos acham "água-com-açúcar"). Viver a Vida não foge à tradição. E como também é costume nas novelas de Maneco, há locações e paisagens belíssimas de Búzios e Rio de Janeiro, sem falar nos capítulos que ainda estão por vir, gravados em outros países.

O contador de histórias

Lendo uma entrevista com Gay Talese publicada ontem, 07 de julho de 2009, no Correio Braziliense, não pude deixar de me identificar com as opiniões dele. E devo dizer que concordo em gênero, número e grau com elas. Para quem não sabe, Gay Talese, de 77 anos, é um dos grandes jornalistas e escritores norte-americanos e o maior nome do jornalismo literário nos Estados Unidos. Foi um dos criadores do Novo Jornalismo (New Jornalism), movimento criado na década de 1960 que incorporava no jornalismo características de literatura (descrição de cenas, diálogos e ponto de vista dos personagens). Em tempos de analfabetismo funcional, precariedade no ensino, empobrecimento cultural e desvalorização de diplomas, vale a pena nós, jornalistas, fazermos uma reflexão sobre a profssão. Eu mesmo não me considero um jornalista completo. Longe disso! Mas de uma coisa nunca tive dúvida: adoro escrever. Foi só por isso que fiz faculdade de jornalismo. E embora seja um grande admirador de Gay Talese, discordo dele em parte, quando ele afirma que o diploma não é necessário em nossa profissão. Acho que o que ele quer dizer é que o talento é algo que está dentro da pessoa, tenha ela diploma ou não. Se uma pessoa escreve bem, tem o dom da palavra e está apta a escrever com alto grau de qualidade, ela pode e deve fazê-lo. Talese mesmo é um desses. Infelizmente o que fazem hoje em dia é tolher qualquer possibilidade de literatura no jornalismo. Não há espaço para se romancear nem detalhar nada. É tudo muito rápido e curto, tudo urgente, tudo para ontem. Argh! Por isso resolvi transcrever aqui trechos da entrevista com Talese concedida à jornalista Nahima Maciel:


A curiosidade foi o ingrediente fundamental para lançá-lo no mundo jornalístico?

Eu tinha a paciência de estar com outras pessoas por muito tempo. Eu não estava sempre correndo para terminar algo, estava interessado em tomar tempo para entender as pessoas muito bem. Jornalistas estão sempre correndo e são impacientes com os outros. Jornalismo é motivado pelo furo. Acho isso ridículo. Para mim, o mais importante não é ser rápido, é ser correto, ser acurado. E também ser profundo e tentar entender bem o assunto sobre o qual você está escrevendo. Quando me formei, fui para Nova York e consegui o emprego no jornal como servente. No tempo livre, eu escrevia coisas e algumas entravam no jornal. Mais tarde, quando fui promovido a repórter, continuei. Andava por Nova York em busca dessas histórias que não eram grandes histórias, não estavam na primeira página, estavam lá no meio. Eram histórias de pessoas ordinárias que me contavam o que pensavam das coisas. Aos poucos, os artigos ficaram maiores, os desafios também e depois viraram livros, mas eram histórias sobre pessoas ordinárias. Sou um contador de histórias, e isso não é jornalismo nem literatura.


Seria este o futuro do jornalismo impresso, contar histórias que não estão nas primeiras páginas dos jornais e deixar para a internet as notícias?

Acho que essas são as histórias mais importantes de serem contadas porque as notícias da primeira página estão na internet e na televisão. Os jornais estão 24 horas atrasados. Sempre. O jornalismo não deveria estar interessado no furo. O jornalismo deveria se interessar pela literatura da realidade. Acho que esse é o futuro do jornalismo, porque acidentes de aviões, alguém baleado ou a morte de uma pessoa importante vão estar na internet, tevê ou rádio 10 minutos depois de acontecer. As pessoas não precisam ler jornais para saber das notícias. É um erro chamar jornais de newspapers, as notícias já estão velhas quando chegam aos jornais. O que é realmente interessante é a personalidade das pessoas que não parecem significativas, mas que refletem as notícias. Por exemplo, essa crise financeira. Há muitas histórias sobre como as pessoas estão sobrevivendo e os jornais deveriam escrever sobre elas. Na guerra do Afeganistão nada foi escrito sobre como as pessoas comuns vivem o talibã. O talibã controla as montanhas, invade o Paquistão, ok, mas ninguém escreve sobre como é ser um talibã. Tenho certeza de que é possível encontrar uma família talibã e escrever sobre como eles vêem o mundo. O problema é que os governos têm a postura de saber quem é o aliado, quem é o inimigo e não falar com o inimigo.

Morte em Veneza - Trecho



“As observações e as experiências de um indivíduo solitário, calado, são ao mesmo tempo mais vagas e mais intensas do que as de uma pessoa gregária. Seus pensamentos são mais graves, mais esquisitos, e jamais falta neles um quê de tristeza. Imagens e impressões que facilmente poderiam ser ofuscadas por um olhar, uma risada, uma troca de opiniões, aprofundam-se pelo silêncio, assumindo importância e transformando-se em acontecimentos, aventuras, sensações. A solidão produz a originalidade, a beleza ousada e singular, o poema. Mas também será a fonte de tudo quanto for errado, desproporcionado, absurdo, ilícito.”

THOMAS MANN
Morte em Veneza

Michael Jackson: 1958-2009

O blog está parecendo seção de obituário, cruzes! Ainda nem me recuperei do choque da morte de Farrah Fawcett e eis que outra bomba - de proporções descomunais - explode um dia depois: a morte do ícone Michael Jackson. Acredito que a sensação deve ter sido a mesma experimentada pelas pessoas quando John Lennon foi assassinado, em 1980. Ninguém acredita que ELE está morto, ele, Michael. Mas não vou esticar muito esse assunto porque corremos um sério risco de sofrer uma overdose de Michael Jackson na mídia.

É estranho imaginar o mundo sem essas figuras que já fazem parte do imaginário coletivo há tanto tempo, que nos acompanham pela infância, adolescência, juventude, maturidade... Seja na TV, no rádio, nas revistas, jornais ou internet, já nos acostumamos com esses personagens do showbizz que invadem nossas casas todos os dias.

Li um artigo bem interessante no Yahoo! que diz o seguinte: "É claro que o mundo inteiro está chocado com a morte de Michael Jackson. Mas é preciso ter um pouco de coragem para escrever o óbvio: todos choram pelo 'antigo' popstar, que gravou discos excepcionais, e não pela patética figura em que ele se transformou". O colunista Regis Tadeu não deixa de ter razão. Lamentamos sim, a perda do mito Michael, "cuja importância para o show business não pode sequer ser colocada em um patamar conhecido deste planeta", nas palavras do próprio Regis. A maneira como ele revolucionou a indústria dos videoclipes, por exemplo, é um feito inigualável. Sem falar na qualidade encontrada em vários de seus discos, como Off the Wall (1979) e Thriller (1983), por exemplo, este último seu trabalho mais famoso e o álbum mais vendido no mundo, de todos os tempos.

É por esse Michael que o público chora e lamenta, não pela criatura no mínimo esquisita que ele se tornou na última década. Debaixo de atos tão excêntricos, malucos e alguns até repulsivos, escondia-se uma criança extremamente solitária e infeliz que se afundava cada vez mais em suas loucuras. Deixamos de levá-lo a sério nos últimos 15 anos, mas sua imagem dos tempos de glória pop e suas geniais canções imortais permanecerão pela eternidade nas diversas lembranças de nossa vida e nos acompanharão sempre.

Liza Minnelli, grande amiga de Michael, já profetizou tristemente: "Agora há muita especulação, e tenho certeza de que quando o resultado da autópsia chegar, todos vão cair em cima dele como o diabo. Os demônios vão vir à tona. Graças a Deus estamos celebrando-o agora".

A pantera recebe a extrema-unção


Foi com imensa tristeza que fiquei sabendo dessa notícia hoje pela internet. Farrah Fawcett, a mais famosa das panteras do seriado de TV dos anos 70 "As Panteras" (Charlie's Angels) foi internada no começo desta semana e transferida para uma Unidade de Tratamento Intensivo por causa do agravamento de seu quadro clínico, segundo os jornais de Los Angeles. Farrah faleceu hoje, aos 62 anos. Ela sofria de câncer anal.

Considerada uma das mulheres mais belas de Hollywood nos anos 70, Farrah foi sex symbol por um bom tempo, mas nunca conseguiu superar o sucesso de seu papel na famigerada série "As Panteras". Largou o programa no auge da fama e resolveu aventurar-se pelo mundo do cinema. Fez uma série de filmes que foram fracassos de bilheteria e várias produções para a TV. Em algumas delas, conseguiu mostrar seu talento de atriz, sempre ofuscado por sua imensa beleza. Entre outros trabalhos, destacam-se "Entre duas mulheres" (Between Two Women, 1986) e "Pobre Menina Rica - A história de Barbara Hutton" (Poor Little Rich Girl: The Barbara Hutton Story, 1987).


Farrah formou um dos casais mais famosos da década de 70 quando se casou com o "homem de seis milhões de dólares", o ator Lee Majors, tornando-se Farrah Fawcett-Majors. Nos últimos tempos teve diversos problemas pessoais, sendo agredida por um namorado e tendo que participar do seu julgamento. As fotos da polícia em que ela aparece toda cheia de hematomas acabaram por ser publicadas por um tablóide, tornando-a um símbolo de luta das mulheres americanas contra a violência de seus parceiros.

Casou recentemente com o ator Ryan O'Neal, seu parceiro desde os anos 80. Os dois já haviam sido casados, mas a união terminou nos anos 90. No entanto, eles se reencontraram em um dos momentos mais difíceis na vida da atriz e, segundo confessou O'Neal à ABC, após várias tentativas, Fawcett aceitou se casar novamente.

Impossível, como fã, saber disso e evitar a sensação de perda. Por mais que Farrah não tivesse atuações significativas há anos, era bom saber que nossa pantera favorita estava no mundo, ainda que fora dos holofotes. Que ela encontre toda a paz que não estava conseguindo encontrar neste mundo. Agora ela é verdadeiramente uma "angel". Não apenas de Charlie, mas de todos os fãs que sempre admiraram seu talento.

Jesus Christ Superstar


Não resisti. É impressionante o número de "manchetes" na Internet alardeando todos os passos do menino Jesus. Refiro-me a Jesus Luz, naturalmente, a celebridade instantânea mais quente do momento. Chega a ser cômico. "Madonna leva Jesus à festa", "Jesus desfila com Gisele", "Jesus posa sem camisa", "Mãe de Jesus Luz é importunada por jornalistas", "Jesus exige camarim exclusivo e não fala com a imprensa", "Jesus caminha com amigo em Ipanema" e por aí vai. A última, de hoje, é "Mãe de Jesus Luz é barrada em balada pós-desfile". Por Deus! Deixem Jesus em paz! O menino foi catapultado à condição de ex-namorado de Madonna e agora é uma das celebridades brasileiras mais disputadas pela imprensa mundial. Pode? E o coitado vai de um lado para o outro, meio perdido, sem ter muita noção do que acontece com ele. Oremos para que ele não tenha o mesmo fim trágico das celebridades precoces e acabe gordo, bêbado, internado em alguma clínica de desintoxicação ou na capa da G Magazine. Ou ainda pior: no Superpop de Luciana Gimenez.

O que teria acontecido com os velhos clássicos da madrugada?

É o que sempre me pergunto, com uma pontada de dor de saudade daqueles filmes que eram exibidos nas madrugadas da TV. Entre clássicos absolutos do cinema e produções duvidosas, sempre havia lugar para todo tipo de deliciosas esquisitices nas nostálgicas madrugadas do Corujão, do Campeões de Bilheteria, do Classe A (todos da Rede Globo) e também de outras emissoras (Manchete, Bandeirantes, SBT) que exibiam filmes de madrugada. Muitos desses filmes sequer existem em vídeo ou DVD, alguns acho que jamais serão vistos na televisão novamente e isso me deixa arrasado, porque os tenho vivos na memória da infância e da adolescência. Boa parte deles eram aueles chamados "made for TV", filmes de baixo orçamento feitos para serem exibidos na TV americana. Muitos consegui gravar , mas infelizmente a maioria das minhas fitas de vídeo se deterioraram com o mofo ao longo dos anos. E como aqueles filmes me davam prazer e me faziam viajar para um mundo tão fascinante... Mesmo que fossem filmes mal feitos ou piegas, ainda assim eram tidos por mim como os indefectíveis "clássicos da madrugada". Abaixo faço uma relação de alguns deles (obviamente há muitos outros, mas só listei os que me vieram à mente agora):

Rebecca, a Mulher Inesquecível (Rebecca, 1940)
Idílio de uma Paixão (Hilda Crane, 1956)
Aquele Gato Danado (That Darn Cat, 1965)
O Escândalo (Le scandale / The Champagne Murders, 1967)
Terror Cego (Blind Terror, 1971)
Uma Jovem Tão Bela Como Eu (Une belle fille comme moi, 1972)
O Fim de Sheila (The Last of Sheila, 1973)
Drama de Uma Adolescente (Sarah T. - Portrait of a Teenage Alcoholic, 1975)
Sombras na Escada (The Spiral Staircase, 1975)
Onde Acontece de Tudo (Redneck County, 1975)
Visões de Sherlock Holmes (The Seven-Per-Cent Solution, 1976)
O Vôo da Morte (SST: Death Flight, 1977)
Mr. Billion (Mr. Billion, 1977)
Um dia Muito Louco (Freaky Friday, 1977)
O Mistério de Candleshoe (Candleshoe, 1977)
O Império das Formigas Gigantes (Empire of the Ants, 1977)
O Incrivel Homem que Derreteu (The Incredible Melting Man, 1977)
Golpe Sujo (Foul Play, 1978)
Verão do Medo (Stranger in Our House, 1978)
Até que enfim é Sexta-feira (Thank God It's Friday, 1978)
Vivendo Cada Momento (Moment By Moment, 1978)
Amizades Segredos e Mentiras (Friendships, Secrets and Lies, 1979)
Loucuras à Meia-Noite (Midnight Madness, 1980)
Como Eliminar o Seu Chefe (9 to 5, 1980)
Queridinhas (Little Darlings, 1981)
A Incrível Mulher que Encolheu (The Incredible Shrinking Woman, 1981)
Marcas do Destino (Mask, 1982)
A Fortaleza (Fortress, 1985)
Trama Fatal (Vanishing Act, 1986)
O Aniquilador (Annihilator, 1986)
Morte no Inverno (Dead of Winter, 1987)
Benji, o Perseguido (Benji, the Hunted, 1987)

Trecho de "Budapeste" - Chico Buarque

"Quarenta e quatro quilômetros diários, sentados lado a lado, eram extensão suficiente para nos conhecermos, e pelo canto do olho nos admirarmos, trocarmos confidências, criarmos implicâncias, às vezes discutirmos aos berros. Porém algum instinto sempre nos continha quando se chegava perto de um humilhar o outro, ou de se abrir demais o peito. Com um mínimo de pudor, mais um tanto de ódio preservado, nossa amizade se consolidou; à diferença do amor, que extravasa a toda hora, a amizade precisa ter seus diques."

Momento "cozinhando com Jaqueline Joy"


No último sábado eu, Juju e Camila realizamos mais um dos nossos encontros "para passar o sábado". Duas convidadas especiais compareceram e entraram para a turma: Luciana e Juliana. Assistimos Mamma Mia! em DVD e a vários clipes do ABBA, como sempre. Compartilhamos fofocas, tomamos gim tônica e fizemos também a leitura comentada do meu livro, Made in Suécia - O paraíso pop do ABBA (um clássico da literatura abbística brasileira - e também o único). Mas o assunto do post de hoje é, na verdade, o delicioso macarrão da Juju, nossa Jackie Joy de plantão (no caso, Juliane Joy). É rápido e prático (como todas as comidas devem ser). Interessados, anotem:


Ingredientes

1 Pimentão grande verde
7 Tomates maduros
2 Cebolas Grandes
1 vidro de champignon
Manjericão
Sal a gosto
Alho
500 g de macarrão conchinha

Modo de preparo: Coloque a cebola na panela. Depois de dourada, coloque o alho e o pimentão (picados, lógico). Por último, acrescente os tomates, o manjericão e os champignons. Cozinhe o macarrão em uma panela separada. Depois é só jogar o molho por cima e cair matando. Finíssimo! Fica uma delícia.

Nas palavras da própria Juju: "Dani, não tem segredo. O importante mesmo é estar rodeado de bons amigos, boa música. Jogar conversa fora, trocar segredos e sorrisos doces. E, se possível, ter uma bela vista verde para lembrar como a vida pode ser muito mais simples". É pura poesia! E que venha logo nossa próxima reunião!

Sabedoria Rodrigueana


Algumas das várias frases geniais e atemporais de Nelson Rodrigues (1912-1980):

"Se os fatos estão contra mim, azar dos fatos."

"O bíquni é uma nudez pior que a nudez."

"Todo casto é um devasso."

"O homem traído não deve ser o último a saber. Ele não deve saber nunca."

"O amigo é um momento de eternidade"

"Sem alma não se chupa nem um Chica-bon."

Planeta Bizarro

Não me canso de olhar as manchetes do site Planeta Bizarro (http://g1.globo.com/Noticias/PlanetaBizarro/0,,6091,00.html). A maioria das notícias beira o surreal, para não dizer inacreditável. O que há de loucura nesse mundo... Eu me divirto. Estas são apenas algumas das notícias:

Convidados perdem apetite após flagrarem cobra jantando gambá

Milionário norueguês leva multa de US$ 109 mil por dirigir bêbado

Mulher sai nua e bate na casa de estranho para pedir cigarros

Americana acorda e encontra homem dormindo ao seu lado

Modelo se nega a amamentar o filho e diz que peitos são só para sexo

Japão vende melancia em forma de coração por R$ 334

Britânica tem coleção com mais de 5 mil sabonetes

Ladrão rouba banco, mas deixa a carteira na cena do crime

Americano encontra cabeça de cobra na salada

Cadela reaparece no Texas após oito anos sumida

Queniano processa grupo de mulheres por greve de sexo

Escola transforma animais de estimação de alunos em salsichas

The Road Not Taken


Robert Frost (1874-1963)

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I –
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

Fazendo jus ao ABBA


Minha amiga Ruth me mandou um link de uma notícia sobre o ABBA que saiu no UOL, escrita por Pedro Carvalho. Resolvi colocá-la aqui. Por que? Porque é raro (aqui no Brasil) ler uma matéria sobre o ABBA que seja bem escrita, interessante e inteligente. E essa é. Para os fãs, claro, pois quem não curte nem se dará ao trabalho de ler. Mas mesmo os não-fãs podem achar curioso. Era essa a idéia que eu tinha quando fiz o livro sobre a banda: tornar o ABBA um grupo respeitado aqui no Brasil e permitir que os jornalistas ao menos se dessem ao trabalho de conhecer minimamente a banda antes de escreverem as bobagens que rolam por aí. Em suma, aqui vai uma matéria bacana sobre o quarteto:



27/04/2009 - 11h13
Caixa "The Albums" mostra grupo sueco ABBA além dos grandes hits
PEDRO CARVALHO
Colaboração para o UOL


Na esteira do sucesso do filme "Mamma Mia", foi estrategicamente lançada no final de 2008 esta caixa de nove CDs, com todos os álbuns de estúdio da máquina de hits sueca dos anos 70 e mais.

Além dos oito discos originais, em capinhas de papelão imitando as artes dos LPs, "The Albums" traz um CD bônus, com faixas lançadas apenas em singles (como o mega-sucesso "Fernando", de 1976), lados B e raridades como as versões em sueco das músicas "Ring Ring" e "Waterloo".

Os cínicos podem ver o lançamento como redundância ou caça níqueis. Mas ABBA e cinismo são antítese, então tratemos da coleção como uma lição de história pop e, melhor ainda, uma chance de conhecer as diversas facetas de um grupo que costuma ser visto preconceituosamente como uma curiosidade cômica dos anos 70, a despeito de seu valor musical.

Sim, era música leve e despretensiosa, feita para vender. Mas qual é o problema? Se o mesmo pode ser dito sobre a gravadora Motown e boa parte da obra dos Beatles, por que não olhar o ABBA, descendente direto de um padrão inventado por ambos, sob a mesma luz?

Fruto do início dos anos 70, uma era marcada por excessos, seriedade e pretensão, Benny Andersson e Bjorn Ulvaeus, dois jovens veteranos da cena musical sueca, decidiram que o melhor a se fazer era seguir o caminho oposto, com canções de menos de três minutos, temática simples e refrões pegajosos.

Recrutando as cantoras Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad, criaram a fórmula que se tornaria um dos modelos para música pop nas décadas seguintes.

Sobre a base que misturava pop da década de 60, canção popular tradicional e a energia do glam rock dos anos 70, o ABBA absorvia influências latinas, grooves do funk e da soul music e tudo o que pudesse ser transformado num single assobiável.

No primeiro disco, o pouco conhecido "Ring Ring", lançado em 1973 ainda sob o nome de "Björn, Benny, Agnetha & Frida", a sonoridade marcante com a qual conquistariam o mundo ainda não aparece em sua plenitude. Ainda assim, em alguns momentos, como na bem estruturada faixa título, já é possível identificar o embrião do que viria a seguir.

No segundo álbum, "Waterloo", já sob o nome de ABBA, a receita estava pronta. A faixa-título, seu primeiro hit internacional, é o mais perfeito exemplo da fórmula associada à banda. As melodias memoráveis, letras quase infantis de tão simples e, acima de tudo, a combinação de batida marcante e produção grandiosa, seriam as ferramentas com as quais os quatro repetiriam as conquistas de seus antepassados vikings e se tornariam, literalmente, um dos maiores produtos de exportação suecos na década de 70.

A partir daí, a usina de sucessos se estabilizou, com um ou outro ajustes de percurso. Após o terceiro álbum "ABBA", de 1975, fonte de hits como "Mamma Mia" e "SOS", o grupo sentiu a decadência do glam e bubblegum do início da década e trocou o que havia de rock em seu caldeirão pelo balanço das pistas de dança.

Os ouvintes mais roqueiros devem prestar atenção nesta linha de demarcação. A chave para vencer o preconceito está justamente no segundo e terceiro álbuns. Faixas menos conhecidas como "King Kong Song", "Watch Out", "Hey, Hey Helen" e "So Long", com suas guitarras sujas e batidas pesadas não fariam feio em álbuns de bandas como Slade, Sweet, Suzi Quatro ou qualquer outro representante do lado mais divertido do glam rock.

O que veio depois de "Arrival" (1976), no entanto, não oferece muito para quem procura rock. Em canções como "Dancing Queen", a música do ABBA absorveu o impacto da disco, conseguindo adaptar aos ouvidos da classe média anglo saxônica o que era, até então, uma variedade hedonista do funk, associada à cena gay norte-americana.

Foi com este híbrido de disco e pop romântico que o grupo seguiu a partir dali, sem grandes saltos qualitativos até o final em 1982. Mesmo sem redescobrir a roda, não deixaram o poço de sucessos secar, culminando em 1980, com o álbum "Super Trouper" e a épica "The Winner Takes it All".

Do primeiro álbum ao canto dos cisnes "The Visitors", de 1981, está tudo aqui, reeditado da maneira ideal, ou seja, mudando o mínimo possível os lançamentos originais. Seja como anti-depressivo alternativo, prazer culpado, nostalgia ou introdução à obra do ABBA, "The Albums" é uma aquisição valiosa, essencial para fãs e recomendada para os curiosos.

O aniversário da "malvada"


Se a insubstituível Bette Davis ainda estivesse entre nós, estaria completando hoje 101 anos. Parece improvável? Que nada. Vejam como Dercy Gonçalves foi longe. Sem falar no Niemeyer... Bem que ela poderia estar nos brindando com seu talento. Bette Davis na verdade é nome artístico. Seu nome real era Ruth Elizabeth Davis, (5 de abril de 1908 — 6 de outubro de 1989). É até redundante falar que ela foi uma das maiores atrizes norte-americanas de cinema, televisão e teatro. É, sem dúvida, minha atriz favorita. Estigmatizada pela marca da maldade, colocava em suas interpretações toda a fúria contra os esquemas dos estúdios, que lucravam cada vez mais com sua acidez.

Natural de Lowell, Massachussets, seus pais foram Ruth Favor e o advogado Harlow Morrel Davis, descendente de uma família de pioneiros que no século XVII se estabeleceu na costa leste dos Estados Unidos. Um fato marcante de sua vida foi o abandono da sua família pelo pai, o que acabou por fortalecer a relação de Bette com a mãe.

Após alguns anos trabalhando no teatro, Davis mudou-se para Hollywood em 1930, onde interpretou papéis menores em alguns filmes da produtora Universal Studios. Em 1932, por influência do ator veterano George Arliss, seu antigo professor de interpretação, ela foi contratada pela Warner Bros., onde permaneceu até 1950, tornando-se uma das mais populares atrizes da época.

Primeira atriz a receber dez indicações ao Oscar, Davis foi vencedora de duas estatuetas, por Perigosa (1935) e Jezebel (1938). Simplesmente foi indicada ao Oscar por cinco anos consecutivos, de 1938 a 1942, sendo a atual recordista de indicações. Ao lado do ator John Garfield, fundou e comandou a Hollywood Canteen, que angariava fundos e entretia soldados norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Davis foi a primeira mulher a presidir a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

Consciente de que beleza física não era seu melhor atributo, Bette atingiu o estrelato pela contramão. Não tentou ser "deusa" nem bela. Ao contrário, era sutilmente sensual. "Nenhuma maquiagem do mundo conseguiria me transformar numa Jean Harlow", disse. Sabendo disso, explorou até o limite sua capacidade dramática e criou o mito pelo avesso, tornando-se estrela pelo próprio esforço. Mas os adjetivos que chamavam atenção nas traduções dos títulos de seus filmes muitas vezes não tinham nada a ver com ela. A verdade, a despeito do mito, não era como grande parte do público pensa. Por exemplo, a "malvada" do filme A Malvada (All About Eve, 1950) não é Bette, como muitos acham, e sim Anne Baxter (a Eve do título original).

Bette foi também responsável pela elaboração do conceito de "mulher independente" que o cinema americano idealizou. Além de perversa, sádica e autoritária, seus personagens também conheceram facetas mais singelas. Dedicação, generosidade, firmeza de propósitos e até mesmo humildade eram determinantes na composição de suas heroínas. "Sei que fiz por merecer a fama de má, mas às vezes me pergunto se não exageraram um pouco", disse ao receber o prêmio
do American Film Institute, em 1978.

Durante as filmagens de A Malvada, Bette apaixonou-se pelo galã Gary Merrill, seu quarto e último marido, e adotou dois filhos: Margo (que depois se revelou excepcional e precisou ser internada em um sanatório) e Michael. Bette tinha uma filha legítima, Barbara, do terceiro marido, o pintor William Grant Sherry, que nasceu quando a atriz estava com 39 anos.

Quando a idade começou a pesar, lá pelo final dos anos 50 e início dos 60, os trabalhos ficaram escassos e os estúdios a deixaram de lado. Não pensou duas vezes antes de lutar pelo que queria. E em 21 de setembro de 1962, colocou na Variety o famoso anúncio:


ARTISTA PROCURA EMPREGO

Americana, divorciada, mãe de três filhos (15, 11 e 10 anos). Trinta anos de experiência como atriz de cinema. Ainda em condições de movimentar-se e mais afável do que dizem os boatos. Deseja emprego em Hollywood. (Fartou-se da Broadway). Respostas para: Bette Davis a/c Martin Baum, G.A.C.

DÁ REFERÊNCIAS.


Foi nessa época que começou a fazer filmes para a TV e filmes de terror psicológico, todos de baixo orçamento. Isso em nada a fez sentir-se menor. Seu desempenho, no entanto, continuava admirável sob todos os aspectos.

Aos 77 anos, extirpou os dois seios cancerosos. Para piorar, quebrou a bacia após um tombo da escada e ainda sofreu um derrame cerebral. Após intensa terapia, filmou seu último trabalho, As Baleias de Agosto (1987). Recebeu a mais alta comenda francesa, a Legião de Honra.

Não foi à toa que Humphrey Bogart a chamou de the warrior (a guerreira). Ela fez jus a essa definição até a morte, quando o câncer a venceu em um hospital de Paris, aos 81 anos. E fumou, todos os dias até morrer, dois maços de cigarros.

Kim Carnes prestou homenagem a ela em 1981 ao gravar Bette Davis Eyes, música que passou nada menos do que nove semanas consecutivas no primeiro lugar do Billboard Hot 100. Foram vendidas oito milhões de cópias do álbum que incluía a canção, vencedora do prêmio Grammy de "Canção de Ano". Bette declarou-se fã da canção, tendo agradecido aos compositores por terem feito dela uma parte dos tempos modernos.

Possui duas estrelas na Calçada da Fama, uma referente ao seu trabalho no cinema e outra referente ao seu trabalho na televisão.

Nada como as divas de ontem...

Agora cismei com as divas. Depois que minha amiga Patty pediu minha ajuda para bolar uma festa cujo tema seria "divas", fiquei pensando sobre essas musas do cinema de outrora que tanto nos fascinam e nos encantam. Admito que sou mais radical e conservador quando o assunto são as divas. Patty é mais condescendente e acha que ainda podemos encontrar divas hoje em dia. Mas acho pouco provável...
Apesar de terem sido estrelas nos anos 40 e 50, elas permanecem atemporais. São exemplos de beleza, elegância e altivez que percorrem décadas e décadas inabaladas. Sem falar no talento da profissão, pois aquelas eram atrizes com 'A' maiúsculo. E me ponho a pensar em quão pobre são os tempos atuais... Totalmente desglamurizados. As chamadas "divas contemporâneas" não possuem a sensualidade, o mistério, o encantamento de Rita Hayworth, Greta Garbo, Bette Davis, Gloria Swanson, Marilyn Monroe, Joan Crawford e outras mais. Elas nunca eram vistas ou fotografadas se não estivessem impecáveis. E tudo que diziam era previamente estudado e analisado. Tinham astúcia e senso de humor refinado. E uma boa dose de cinismo também, claro.
Bem, o que vemos das divas de hoje? Aparecem descabeladas e maltrapilhas em lanchonetes baratas, são fotografadas em qualquer lugar, saindo do supermercado, carregando uma penca de filhos chorões, discutindo com o namorado na calçada ou saindo da farmácia com a cara inchada de um resfriado. Isso quando não são vistas caindo em fim de festas, bêbadas, proferindo insultos a paparazzi ou desferindo golpes em repórteres inconvenientes. Elas não nos despertam a vontade de descobrir, de desnudar. São óbvias demais. Rita Hayworth, por exemplo, tirou UMA única luva em Gilda, apenas uma e não o par. Mas todo mundo acredita ter visto um strip-tease completo. E até hoje ela povoa as fantasias dos homens. As pseudo-divas de hoje já são lançadas completamente nuas, física e moralmente. Não medem esforços para se manter na berlinda. Muitas vezes de forma deplorável, diga-se de passagem. Isso sem mencionar que são totalmente desprovidas daquela aura mágica e imponente da Hollywood dos anos 50. Nem sempre as coisas que são belas precisam ser escancaradas. Talvez o que falta às divas de hoje seja, principalmente, elegância, classe. Nada como as divas de ontem...

Sessão divas

Greta Garbo em sua biografia, A Divina Garbo:

"Quanto a meus dias escolares, eu vivia num constante estado de medo, detestando cada momento passado na escola e, especialmente, de duas matérias: geografia e matemática. Jamais pude entender como alguém se interessa por lugares distantes, ou por tentar solucionar problemas ridículos como quantos litros de água passam por uma torneira de tal e tal diâmetro em uma hora e quinze minutos. Eu não apenas achava estúpido perder tempo com essas questões, mas, para espanto dos professores, também ousava dizê-lo em voz alta."


"Não saio para qualquer diversão desde que cheguei. Vou para a cama o mais cedo possível, e não faço nada durante o dia. Ainda não comecei a trabalhar. Parece-me que vai levar tempo, e entristece-me dizer que não sinto muito. Tampouco sinto por minha vida reclusa. Não ligo se ajo como uma velha."

Tem fogo?


A atual histeria coletiva em relação ao cigarro é algo extremamente irritante. Acredito que tanto fumantes como não-fumantes podem desfrutar do mesmo mundo. É claro que ambos merecem respeito, ou seja, se você tem o direito de não gostar e não querer fumar, eu tenho direito de gostar e querer. Esse rótulo piegas de “vilão máximo da humanidade” que o cigarro ganhou de alguns anos pra cá é tão cansativo e torna os antitabagistas tão intolerantes que faz com que os pobres coitados dos fumantes sejam marginalizados e vistos como alienígenas, criminosos. Por isso resolvi transcrever aqui trechos de um artigo da Laura Capriglione muito interessante, publicado pela Veja em 1996 (e olha que naquela época fumar ainda era permitido). O título era “O direito à intoxicação”:



Eles – os cientistas, os médicos, os familiares, os amigos, em suma, os não fumantes – acham que fumar é um vício sujo cujo núcleo consiste em levar nicotina ao cérebro, propiciando um determinado tipo de reação físico-química. Eles estão por fora, os não fumantes, achando que cigarro é prosa. Cigarro é poesia. Fumar é apalpar em desespero o bolso ou a bolsa, até sentir a forma amada que nos acalma. (...)


É fechar os olhos e ficar em paz, com a bênção dos deuses do fumo. É depois abrir os olhos, e soprar, soprar para cima, contemplar a fumaça que sobe, sobre, a vida que se desmaterializa numa nuvem azul – e novamente tragar. Fumar é um ritual. O cigarro tem uma cultura e uma história.


Quando se quer convencer alguém a abandonar o cigarro, não basta brandir argumentos médicos, denunciar os ganhos da indústria do tabaco à custa da saúde alheia. É preciso, ainda, desmontar as imagens inebriantes da cultura do cigarro. Das imagens, do discurso do fumo, fazem parte Humphrey Bogart tragando no aeroporto de Casablanca, dizendo adeus para sempre a Ingrid Bergman, Jean-Paul Sartre fumando no Café de Flore durante o Maio de 68 parisiense, e Rita Hayworth, de piteira, exalando lascívia em Gilda. Emblemas da cultura do cigarro, Bogart, Sartre e Hayworth identificaram ao fumo comportamentos bem nítidos. Bogart, o machão de alma romântica, associou ao fumo o vício da solidão. Sartre, vesgo e baixinho, deu à fumaça uma aura de existencialismo, de pensamento e rebeldia. E Rita Hayworth associou para sempre cigarro a devassidão, maus costumes, erotismo. A mulher fatal fuma, assim como o aventureiro e o filósofo inconformista. O cigarro, assim, não é coisa de bocós que cultuam o corpo nem de mocinhas inocentes. É coisa de gente experiente. De gente que topa gastar o corpo rápido para melhor aproveitá-lo. Cigarro é coisa de pecadores. Daí o seu fascínio. A beleza do cigarro não é solar e saudável, racional e reveladora. É noturna, doente, suja, compulsiva, neurótica.

(...)

É de subversão aos bons costumes que se trata, quando se fala em cigarros. É reação puritana, envernizada por teorias científicas, a grita histérica contra o tabaco nos dias que correm. O historiador americano Richard Klein, em seu livro Os Cigarros São Sublimes, ilustra esse fato ao mostrar que sempre que se lutou pela pátria, pela revolução, pela conquista de algum direito, as nuvens negras do cigarro estiveram presentes. Um dos episódios mais célebres da independência americana, quando os colonos lançaram ao mar mercadorias taxadas em excesso pela coroa britânica, envolveu o tabaco, submerso em grandes fardos junto a lotes de chá, as chamadas “Tea Party”. Nas guerras, já o disse o general John Joseph Pershing, chefe da Força Expedicionária americana durante a I Guerra Mundial, o cigarro é tão imprescindível no front quanto as balas, para ganhar a batalha. Nas barricadas de Maio de 68, na França, durante a revolta dos estudantes e operários, o cigarro era a companhia inevitável.

Vitaminas e Academias – Pode-se argumentar que a atmosfera fumacenta decorre da ansiedade que envolve o indivíduo nesses momentos cruciais. É apenas parte da verdade. A nicotina é poderoso lenitivo contra a angústia, sem ser um estupefaciante, como outras drogas. Mas, antes de assumir que todos os soldados de todas as causas não passam de vítimas de seus comandantes, que tal pensá-los como pessoas que resolveram dar-se ao luxo de morrer, física ou moralmente, pelo que acreditam correto? Nessa perspectiva, o cigarro ganha a dignidade de um companheiro inseparável, confidente mudo das abissais angústias. Só indivíduos que não ficam o tempo inteiro pensando em como preservar a própria saúde têm a coragem de enfrentar o inimigo que está na esquina. Quem pensaria, nessas circunstâncias, em vitaminas e academias de musculação?


(...)


Os antitabagistas de hoje usam argumentos sanitaristas para proscrever os fumantes. Julgam-se tributários dos avanços recentes da medicina e tentam a todo custo evitar a pecha de moralistas, já lançada contra eles antes, quando insistiam em perseguir pelas ruas, aos gritos de “prostituta!, leviana!”, as mulheres que fumavam. Mas é a mesma recusa ao prazer que faz com que o cigarro seja lançado no limbo dos infernos, transformado em grande Satã contemporâneo. Que faz com que se busque o sexo tão seguro que acaba por abolir o sexo. Que impede que alguém mergulhe sem culpa num belo prato de comida. Que lança anátemas contra quem se refestela numa rede, quando deveria estar malhando numa academia.


Fumar, nessa perspectiva, pode ser uma resistência à repressão, ao massacre dos impulsos organizado pela civilização. Uma resistência ambígua, pois feita de auto-aniquilação, de morte. O fumante, cada vez mais, sabe que o cigarro o está matando. “Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando”, resiste o poeta Fernando Pessoa, sob a máscara de Álvaro de Campos, em Tabacaria. Sigmund Freud, em O Mal-Estar na Civilização (também conhecido no Brasil como A Civilização e Seus Descontentes), em 1929, escreveu que “a vida, tal como nós a encontramos, é muito dura e disso decorrem descontentamento e dores. Não passamos sem paliativos, substâncias intoxicantes que nos tornem insensíveis. Elas são imprescindíveis”, diz Freud, fumante de vinte charutos por dia, charutos que ajudaram a desenvolver o câncer no maxilar que o matou, sabia que o fumo era um desses paliativos, dessas substâncias intoxicantes que nos servem de apoio para atravessar a vida. Querer erradicar o cigarro é uma ilusão, é achar que a humanidade almeja o bom e o bem, racionalmente. E é, talvez, querer destruir aquilo que a humanidade tem de mais belo: a capacidade de criar um objeto que, injetando fumaça corpo adentro, nos ajuda a viver e morrer. Sem cigarro, é difícil aturar a realidade.

Revista Veja, 29/05/1996

Ainda as novelas das seis

Já que o último post foi sobre uma novela das seis prestes a estrear, continuemos com o tema. Há algum tempo os noveleiros estão desiludidos com o horário. Os tempos mudaram, a rotina do brasileiro mudou, a família, a sociedade, a tecnologia, tudo mudou. É raro hoje em dia um autor conseguir emplacar uma novela das seis. A última que me lembro foi o remake de O profeta, em 2006. De lá pra cá, só fiascos.

Hoje, novela das seis horas da tarde já é marca registrada, mas tudo começou em maio de 1975, quando a TV Globo inaugurou a programação fixa das 18:00 horas, dando assim mais um passo importante na história da telenovela brasileira. À princípio, o horário era dedicado exclusivamente a transpor para a TV grandes romances da literatura brasileira. A estréia ficou com Machado de Assis e seu romance Helena, com adaptação do então novato Gilberto Braga.A Globo passou a investir no requinte das adaptações literárias. Novelas como Senhora (1975/76), A Moreninha (1976) e A Escrava Isaura(1976/77) conquistaram o público e firmaram formato. Lucélia Santos e Rubens De Falco, nos papéis principais, ainda hoje são sucesso no mundo todo com A Escrava Isaura.


Mas às seis, a Globo também alternou ilusões do século passado com romances um pouco mais recentes. A novela O Feijão e o Sonho, por exemplo, da obra de Orígenes Lessa, abriu essa nova etapa. Para se ter uma idéia do poder do horário, muitos desses livros foram relançados e se tornaram campeões de vendagem, isso 20 ou 30 anos depois do lançamento. O mesmo aconteceu com o romance Maria Dusá, de Lindolfo Rocha. Numa adaptação de Manoel Carlos, a novela Maria Maria teve o requinte de uma superprodução na televisão e mais uma vez consagrou seu autor, esquecido desde o início do século.


Em 1982, com a novela Paraíso, a Globo abriu espaço também para roteiros originais, abordando temas atuais. Em 1993, um antigo sucesso do horário nobre da TV Tupi foi recontado às seis horas da tarde, Mulheres de Areia, a saga das gêmeas Ruth e Raquel. A reedição dessa novela, da saudosa Ivani Ribeiro, chegou cheia de efeitos especiais, propiciando aos noveleiros de plantão mais um delicioso momento da telenovela brasileira. Depois do grande sucesso de Mulheres de Areia, a Globo tentou emplacar com tramas inéditas, mas o público não aceitou bem e o Ibope do horário acabou decaindo.


Em 1997, entretanto, o núcleo de teledramaturgia da Globo resolveu trazer o sucesso de volta para o horário, com o bem sucedido remake de Anjo Mau. Com elenco, direção e campanha de divulgação impecáveis, o antigo sucesso de Cassiano Gabus Mendes, reescrito por Maria Adelaide Amaral, ganhou roupagem nova e trouxe os altos índices de audiência de volta ao horário das 18:00 horas. O mesmo aconteceu com a festejada estréia da versão anos 90 de Pecado Capital, escrita originalmente por Janete Clair em 1975 e adaptada por Glória Perez em 1998. Já na primeira semana de exibição do remake, os altos índices de audiência foram confirmados, embora a história tenha perdido o impacto inicial após os primeiros capítulos.

No caso de Cabocla e Sinhá Moça, ambas de Benedito Ruy Barbosa, os remakes foram bem sucedidos. Já Ciranda de Pedra, apesar da produção impecável, não emplacou. Miguel Falabella que o diga, com sua Negócio da China. Mesmo original, o autor reconhece que se desviou de sua tradicional fórmula de sucesso, marca de suas novelas anteriores. A esperança agora é a nova Paraíso.

A dois passos do Paraíso


Aos 77 anos, Benedito Ruy Barbosa causou polêmica terça-feira passada ao criticar as novelas atuais na entrevista coletiva de lançamento da nova novela das 6, Paraíso. A trama é um remake de 1982, do próprio autor, e promete levantar o quase sempre caído horário. Benedito relembrou o episódio que o fez criar Paraíso nos anos 80: na época o programa Povo na TV, do SBT (até então TVS), estava batendo a Globo em audiência. “Era um programa em que valia tudo. O apresentador mandava as pessoas colocarem um copo de água em cima da TV, depois dizia que essa água estava benta e que poderia curar até câncer. Pensei: ‘Para vencer isso, só mesmo o casamento do filho do diabo com a santinha’”, comentou, rindo. A estratégia funcionou. “A novela estava tão certa que entrou no ar e foi um desbunde. Chegou a dar 70% de audiência. Uma coisa maluca, hoje não se consegue mais isso”, afirma Benedito. E completa em seguida: “Ou talvez se consiga, se você mostrar o amor como ele deve ser vivido, com beleza e grandeza. Infelizmente, hoje, todas as novelas começam na horizontal, com o marido traindo a mulher, a mulher dormindo com três ou quatro". Entre outras frases polêmicas, o autor soltou: "Não escrevo novela para mostrar a Índia. O Brasil é maravilhoso". Parece que Miguel Falabella e Glória Perez não gostaram nem um pouco dos comentários ácidos do colega. Paraíso volta à televisão em 16 de março com a proposta de resgatar o amor puro e romântico, além das histórias do interior do país. Quem assistiu à trama original tem a chance de relembrar a abertura no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=0Zf44iCEG-M

Automóveis e homens

Como estou voltando para Brasília depois de um breve período de férias, resolvi postar aqui uma crônica do Rogério Menezes publicada há alguns anos no Correio Braziliense. Como me identifiquei instantaneamente, guardei aquela página do jornal. Outro dia achei o recorte no meio das minhas coisas e eis que o transcrevo aqui:


Crônica da Cidade
Por Rogério Menezes
Correio Braziliense 18/11/2002

Automóveis e homens

Perdão pelo lugar-comum, pelo déjà-vu do assunto, mas preciso voltar ao tema: Brasília privilegia automóveis. Não homens. Com pistas-de-alta-velocidade-que-parecem-aqueles-autoramas-das-infâncias-mais-remotas, ainda que reduzidas pela voracidade dos pardais sempre alertas, sempre implacáveis, esta capital federal é dos automóveis. Como a lua é dos namorados. Ponto.

Andarilho contumaz pela região central de Brasília, costumo cruzar mais, infinitamente mais, com automóveis do que com homens. Ao caminhar pela margem lateral do Eixo Momumental, um trecho que vai deste jornal até as imediações do Pátio Brasil Shopping, percurso que faço com certa regularidade, constato a implacável solidão dos que andam a pé em Brasília. Parece ser a mesma solidão implacável dos que andam (e pregam) nos desertos.

Ao caminhar em passo lento ao lado de automóveis que passam em alta velocidade sinto, admito, certa vergonha. Certa fragilidade. Certo desconforto. Certo mal-estar. Como se fosse um marginal. Um pária. Um alienígena. Um gauche-na-vida (se bem que seja, de fato, admito de novo, uma soma disso tudo). Tanto que tento evitar o olhar, se é que haverá algum, dos motoristas dos carros que circulam ao redor a toda velovidade.

Temo ler no olhar deles algo assim: - O que esse maluco estará fazendo sozinho e a pé nesta cidade que pertence aos automóveis e a mais ninguém?

Eventualmente capto certa raiva dos automóveis (melhor: dos motoristas que os conduzem) em relação a mim. É quando, na bucólica solidão verdejante do Parque da Cidade, surjo assim, do meio do nada e, estacionado à margem de alguma faixa de pedestre, levanto a mão sinalizando que atravessarei a pista.

Aí, quando sou obrigado a olhar para os carros e, conseqüentemente, para os motoristas que os conduzem, tentando perceber, com algum grau de precisão, se chegarei vivo ou não ao outro lado da pista, flagro olhares de desprezo, de raiva, e até mesmo de piedade.

Aí, nesses momentos, leio pensamentos assim: - De onde saiu esse pobre-diabo? Será que esse pobre-diabo não teme que algum motorista mais apressado ignore o sinal de mão dele e o transforme em massa disforme imiscuída no asfalto negro?

Aí, após essa fugaz troca de olhares, atravesso a pista, morrendo de medo que o motorista mude de idéia e me atropele (afinal de contas será crime sem testemunhas; Brasília é, em alguns lugares, cidade-sem-testemunhas).

Aí, ao chegar no outro lado da pista, constato: - Bom. Sobrevivi.

Aí, sigo em frente - e em paz. Pelo menos até que outro automóvel veloz surja de algum lugar e acabe com tudo.

O resgate da própria alma


Old photographs and places I remember
Just like a dying ember
That's burned into my soul

(Jim Capaldi - Old Photographs)

Hoje faz uma semana que estou na casa dos meus pais, em Muriaé (MG). E já estou de partida para o Rio. É inevitável o choque cultural que se tem ao voltar para o ambiente familiar. Principalmente para quem vem tão pouco à terra natal, como é o meu caso. A distância não favorece as visitas constantes, um dos motivos pelos quais venho pouco. A cidade não é, como direi... muito convidativa. Mas mesmo o choque cultural tem seus encantos, apesar da melancolia nostálgica de testemunhar, ano a ano, o desfacelamento da cidade que outrora era mais aprazível. Algumas ruas foram parcialmente levadas pelas últimas enchentes. Muitas casas tradicionais foram demolidas e deram lugar a construções horrendas, prédios compridos e finos que mataram a (pouca) personalidade que a cidade tinha. As casas do começo do século passado já quase não existem. As fachadas da cidade foram sufocadas por um monte de portas, portinhas e vitrines de lojas, lojinhas, lanchonetes e botecos. As pracinhas, já áridas e praticamente sem vegetação, são um verdadeiro mafuá. As pessoas estão cada vez mais selvagens, nada é conservado. Vivo isto como férias, mas não consigo evitar o saudosimso. Não que Muriaé já tenha sido algum paraíso, mas perto do que é hoje, a cidade já foi bem mais agradável, tanto social como visualmente. Alguém já disse, aliás um outro mineiro, Otto Lara Rezende, que nossa alma está no lugar onde nascemos. Nas praças, no sino da igreja, no casario, no paralelepípedo das ruas. Gente mais simples já disse que pegamos energia no lugar onde nosso umbigo está enterrado. E eu acredito nisso. Sei que, apesar de não ter simpatia alguma por Muriaé, em algum cantinho recôndito, bem lá no fundo, tenho carinho pelo tempo em que vivi aqui. Mesmo que hoje quase tudo esteja diferente do meu tempo de infância e adolescência, ainda sinto os mesmos cheiros daquelas épocas. Determinadas ruas têm o cheiro das padarias da minha infância, o pão que ficava pronto no final da madrugada, as vitrines cheias de guloseimas e abelhas... Em outras ruas sinto aquele cheiro delicioso de comida, no começo da noite. O cheiro vem das "casas de família" e se mistura ao cheiro de dama da noite. As lojas de aviamentos e tecidos ainda conservam o mesmo cheiro de antigamente, assim como as igrejas, a banca do jornaleiro e os supermercados. Engraçado como o cheiro nos transporta para outra época, outra era, tão longe... E ao mesmo tempo, nos traz de volta para o mesmo lugar, ainda que nada seja mais como antes. Até hoje sinto - embora muito raramente - o cheiro do jardim de infância. Aquele cheiro de merenda (Mirabel, suco, frutas) misturado à lápis de cera, tinta guache, massa de modelar, caderno novo... Enfim, cheiro de criança, de infância.
...
Só de curiosidade: o trecho que citei no início deste post é da música Old Photographs, de Jim Capaldi, cuja letra tem a ver com o que escrevi e, por coincidência, eu estava escutando enquanto escrevia. Para quem não sabe, a música ganhou uma versão piegas (e bem conhecida) em português chamada Casinha Branca. Nada a ver com a letra original em inglês. O trecho correspondente seria "Eu queria ter na vida simplesmente / um lugar de mato verde / pra plantar e pra colher".

Daniela, Madonna, Angelina...


A entrevista da Veja desta semana está bombástica (no bom sentido). Camille Paglia, a intelectual americana da cultura pop, diz que o cenário atual é desanimador e exalta nossa Daniela Mercury - de quem se tornou fã - como a "Madonna brasileira". Mas sobre a verdadeira Madonna ela dispara:

"Ela está patética. O que mais me espanta é esse envolvimento com a cabala. De um lado está a Madonna dos anos 80, um símbolo de rebelião contra a ortodoxia religiosa. Agora temos a Madonna pregando a cabala, catequizando pessoas. Para Madonna, consultar a cabala é como ir ao terapeuta. Não é uma crença religiosa, é um modo de lidar com seus problemas psicológicos. E não é coincidência que a criatividade dela tenha decaído. Além disso, ela está um monstro. São inacreditáveis aqueles braços grotescamente musculosos e mãos que lembram garras. Não me parece uma sexualidade realmente autêntica, é muito conceito, muito planejamento mental. Ela deveria meditar sobre sua grande influência, Marlene Dietrich, com quem viveu algo muito triste. Madonna quis fazer um filme sobre Marlene, que ainda estava viva, reclusa em Paris. Marlene não quis. Não permitiu que ela a interpretasse, por considerá-la muito vulgar. Madonna se casou com um homem dez anos mais novo e começou a lutar para parecer uma menininha. Quanto tempo vai continuar com isso?"

A entrevista continua e Camille também:

"Eu achava Guy Ritchie [ex-marido de Madonna] um cara decente e continuo achando. Depois da separação, todo mundo esperava que ele voltasse a desfilar com loiras pernudas, o tipo de mulher com quem saía antes de se casar. Até agora, não apareceu nenhuma foto de Ritchie com outra mulher. Já Madonna quer dar o troco e mostrar que continua desejada, mas só parece desesperada ao sair com homens como Alex Rodriguez (jogador de beisebol) e agora o modelo brasileiro. Ele é muito bonito, diria magnífico, mas o caso é patético. Acho bom que mulheres mais velhas tenham namorados mais jovens. Mas tem de existir química, um entendimento na relação entre os dois. No caso de Madonna, o rapaz parece um gigolô e faz com que ela fique ridícula."

Sobre Angelina Jolie, a quem considera "uma atriz maravilhosa", Camille diz:

"O problema com Angelina é que, ao atingir o ápice do estrelato, as pressões ficaram muito fortes e ela passou a fazer um jogo de esconde-esconde esquisito. Normalmente, eu desaprovo atores que se passam por militantes políticos. Tudo bem aparecer ocasionalmente em um evento beneficente, mas eles não devem partir para cruzadas. Uma exceção é o Bono Vox. Acho interessante ver que, conforme vai envelhecendo, dedica sua energia às questões políticas. Mas Angelina ainda está no topo da sua performance. Ela deveria gastar o tempo estudando arte em vez de ficar tentando provar que é Madre Teresa ou Joana d'Arc. Minha vontade é dizer a ela: 'Pare de falar e vá se concentrar em outra coisa'."

Falou e disse. Quem quiser ler a entrevista na íntegra, ela está na revista Veja (Edição 2101, de 25 de fevereiro de 2009).

Viva las cifras

O grupo de rock britânico Coldplay foi o grande campeão de vendas de discos em 2008. Viva la Vida (EMI) vendeu 6,8 milhões de cópias pelo mundo no ano passado, de acordo com a IFPI, entidade que representa a indústria fonográfica mundial. O vicecampeonato na lista de discos mais vendidos ficou com o veterano grupo de rock australiano AC/DC: Black Ice (Sony&BMG), primeiro disco da banda em oito anos, ultrapassou os seis milhões de cópias vendidas. E, como não podia deixar de ser, meus indefectíveis suecos não podiam ficar de fora desse ranking. A trilha sonora do filme Mamma Mia! (Universal), com músicas do ABBA, ficou em terceiro lugar. A trilha ajudou a puxar a clássica coletânea do quarteto sueco, ABBA Gold (Universal), lançada em 1992, ao 37º lugar entre os discos mais vendidos de 2008. Gold já virou arroz de festa nas listas de mais vendidos. Vira e mexe a coletânea volta às paradas.

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Como eu já previa...

Uma semana depois de sua estréia mundial, o remake de Sexta-Feira 13 provou ser um sucesso. Foi o 12º filme da série, iniciada em 1980, e o primeiro em seis anos. O novo filme começa resumindo as origens do serial killer Jason Voorhees e corta para os dias atuais. Jason era um garoto com deficiências mentais que se afogou no lago (Crystal Lake), enquanto dois monitores faziam sexo em vez de cuidar dele. No primeiro filme, sua mãe, Pamela Voorhees, se vinga e assassina todos na colônia, mas morre decapitada. No segundo, Jason ressuscita e, para vingar a mãe, mata todos que se aproximam do lago. O bonequinho d'O Globo aplaudiu através da crítica positiva de Tom Leão (em 18/02/2009):

"O novo Friday the 13th (no original) tem a seu favor o fato de não mexer muito na mitologia do serial killer, como fizeram na refilmagem do clássico O Massacre da Serra Elétrica. Também, em comparação, é o mais bem-acabado produto da série, geralmente de filmes de baixíssimos orçamentos (...). Os fãs desse tipo de filme querem ver mortes cada vez mais caprichadas e absurdas (e risíveis) e mulheres bonitas mostrando os seios (...). Logo a trama vem para os dias atuais, quando, mais uma vez, Jason desperta de seu marasmo na sossegada região de Crystal Lake para chacinar os jovens que vão lá acampar e fornicar. E aí está a base moralista que move este tipo de filme, e que foi desconstruída no primeiro da série Pânico: as pessoas morrem por estar se divertindo, transando, bebendo e fumando erva, tudo o que foi negado ao jovem Jason, que morreu por causa da conjunção desses fatores e não pôde chegar à adolescência. Moralismos à parte (isso está entranhado na cultura americana e em quase todo tipo de filme de Hollywood há décadas), é o tipo de filme para quem gosta do gênero e que andava meio sumido das telas, repletas de adaptações de filmes de terror psicológico orientais, com muito clima e poucas cenas radicais de fato. Puro escapismo inconseqüente. O facão voltou e está cortando como nunca. Slash!"

Quanto pior, melhor - Parte 2


O que interessa mesmo é o extraordinário fenômeno de algumas (leia-se muitas) pessoas aparentemente normais cultuarem deliberadamente os piores filmes do mundo, feitos especialmente para esse mercado. Um ótimo exemplo são os filmes que eram apresentados por José Mojica Marins – o Zé do Caixão – no extinto Cine Trash, da TV Bandeirantes. Filmes ruins por opção, como os infames O Ataque dos Tomates Assassinos (Attack of the Killer Tomatoes, 1980) e O Ataque dos Vermes Malditos (Tremors, 1990). O curioso é que alguns desses filmes, de tão ruins, viraram até clássicos, como aconteceu com O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), de Tobe Hooper, que ganhou refilmagem em 2004.

No entanto, o mais lírico dos bad movies, verdadeira obra-prima, é O Abominável Dr. Phibes (The Abominable Dr. Phibes, 1971), dirigido por Robert Fuest. O filme mostra o admirável Vincent Price no papel de um homem amargurado pela morte da mulher por erro médico. Um a um, ele mata cada um dos doutores.

O diretor John Waters, papa do kitsch, brincou com a idéia da obsessão da mídia e do público pelos psicopatas. No impagável Mamãe é de Morte (Serial Mom, 1993), Kathleen Turner interpreta uma simpática mãe que assiste secretamente a filmes de horror baratos. O filme mostra com muito humor negro do que essa mãe de uma pacata família de classe média americana é capaz.

A americana Pauline Kael, célebre crítica de cinema da revista New Yorker, fez uma interessante observação sobre a paixão por filmes ruins. Segundo ela, "o que nos agrada em cada filme, na maioria das vezes, tem muito pouca relação com o que consideramos arte".
Verdade seja dita: com maior ou menor talento, o cinema aprendeu a brincar com a morte – um tema importante demais para ser levado a sério. Talvez aí esteja o grande carisma dos filmes de terror, que não deixam de ser uma das melhores válvulas de escape.

Quanto pior, melhor - Parte 1


Entre os chamados filmes fantásticos mais procurados nas videolocadoras, a grande maioria pertence à chamada "produção B". São filmes de baixo orçamento que utilizam linguagem televisiva, elenco geralmente desconhecido e pouco convincente. Neles, o malfeito faz parte da própria curtição que o público espera. Há uma tendência do espectador em misturar o susto com o riso, dando espaço ao surgimento do humor negro. O filme Pânico (Scream, 1996), de Wes Craven, brinca justamente com isso e talvez por esse motivo – somado ao elenco de jovens talentos da época – tenha acertado no ponto. Não foi à toa que abriu um novo e aparentemente inesgotável espaço no mercado.

Como tudo na vida, os bad movies também têm seu lado bom, especialmente no terror, gênero em que um diretor ansioso por novas experiências pode fazer de tudo. Entusiasmada com a estrutura da obra de Alfred Hitchcock, a nova geração acrescentou alguns baldes de sangue e muita violência explícita, dando origem ao subgênero conhecido popularmente como "sangue-e-tripas".

Pelo menos dois filmes merecem citação como exemplos de talento no mundo do "quanto pior, melhor". Um é A Morte do Demônio (The Evil Dead, 1982), do hoje consagrado Sam Raimi (diretor do recente sucesso Homem Aranha). Os atores são péssimos, a direção de arte inexistente, a história ridícula e os diálogos canhestros. Mas a montagem, os movimentos de câmera, todo o ritmo do filme foi inovador e mostra o extraordinário domínio do espaço por esse cineasta que se tornou um dos melhores da novíssima geração americana.

Outro manjadíssimo é o já comentado Sexta-feira 13 (Friday The 13th, 1980), de Sean Cunningham. O filme acabou gerando uma série de incontáveis continuações, todas parecidíssimas, e transformou o psicopata Jason no herói americano dos anos 80. A cada filme da série decaía a qualidade, mas o sucesso de público continuava. Tudo porque os sustos já eram conhecidos e o riso nervoso passava a ser rotineiro.

O mesmo aconteceu com a série A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, 1984), do mesmo diretor de “Pânico” que, aliás, foi um dos precursores do gênero sangue-e-tripas. A filmografia de Wes Craven é extensa, incluindo clássicos trash como Aniversário Macabro (The Last House on the Left, 1972), Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 1977) e A Maldição dos Mortos-Vivos (The Serpent and the Rainbow, 1988).

Sangue, tripas e pipoca


Um dos gêneros mais procurados nas videolocadoras durante a década de 1980 foi o suspense, principalmente aqueles filmes que mostravam o dito terror fantástico. Casas mal-assombradas, vampiros, lobisomens, zumbis, monstros do espaço, demônios reencarnados ou simplesmente assassinos em série fazem parte de uma estranha galeria de personagens que todos os dias entram em milhões de salas de visitas.

O filme Pânico (Scream, 1996), de Wes Craven, veterano no gênero, ressuscitou o tema do psicopata que rodeia um grupo de estudantes, esquecido uma década antes. Mas o novo terror do século XXI não tem nada que lembre as produções trash dos anos 70 e 80, pelo contrário. Há efeitos e maquiagem de primeira, atores conhecidos e na maioria das vezes talentosos (geralmente carinhas fáceis da TV americana), embora a fórmula original seja a mesma dos filmes de terror teen das décadas anteriores. A diferença é que agora há mais recursos e um mercado muito mais exigente.

No caso do bem sucedido Pânico, o filme gerou até continuações e originou uma série interminável de similares. É uma diversão tensa e angustiante, mas que tem fãs ardorosos entre o público de DVD. Contrariando o que se dizia por aí, os filmes de terror e suspense têm ainda fôlego para muitas vidas. Prova disso é que muitos ganharam - e continuam ganhando - até refilmagens, como O Massacre da Serra Elétrica e A Profecia. Sem falar nas edições de luxo lançadas em DVD, com cenas inéditas, imagens restauradas, curiosidades e muitos extras.
E para não dizer que não falei de Jason, estréia na próxima sexta aquele que não poderia faltar na galeria dos "eternos": Sexta-feira 13 (Friday the 13th). Depois de dezenas de seqüências (incluindo até um confronto com Freddy Krueger, seu astro rival de A Hora do Pesadelo), parece que mais um filme da série ganhará as telas do cinema. Mas não será uma continuação e sim uma refilmagem. O curioso é pensar que ainda acham fôlego para variar mais uma vez sobre o mesmo tema. E olha que de variações, Sexta-feira 13 está cheio! Não importa, o público não se cansa de levar sustos com Jason. Por isso mesmo, esta semana o blog será dedicado à estréia do remake e aos filmes de terror em geral, dos quais sou fã confesso.

A bossa e a fossa


A minissérie Maysa - Quando Fala o Coração, de Manoel Carlos, exibida pela Rede Globo em janeiro passado, teve pelo menos dois grandes méritos: chamar a atenção do público para a cantora carioca e revelar o trabalho impecável da atriz gaúcha Larissa Maciel, intérprete de Maysa. Aprovada entre 200 candidatas, Larissa mostrou ao Brasil a história de uma das maiores cantoras do país, infelizmente nem tão conhecida assim hoje em dia. Graças à minissérie, o público mais jovem teve a chance de conhecer a conturbada história de Maysa - na minha opinião, uma espécie de "Edith Piaf brasileira" - e melhor ainda, sua música. Uma das personalidades mais marcantes da história do show business brasileiro, Maysa Figueira Monjardim (1936/1977) nunca soube o significado da palavra limite e passou a vida em busca do "amor perfeito". Largou o casamento para se dedicar em tempo integral à carreira de cantora e estourou com canções românticas exacerbadas, rotuladas na época de “fossa”, entre as quais Ouça, Meu Mundo Caiu, Por Causa de Você e Adeus. Tanto é que ganhou o epíteto de "rainha da fossa". Deu grande força à então emergente bossa nova, gravando músicas de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Ronaldo Bôscoli, entre outros.

Confesso que só conhecia a história e o trabalho de Maysa superficialmente, mas a minissérie despertou meu interesse pela cantora e me deparei com um repertório único, que conta um pedaço da história da música popular brasileira. Livros sobre Maysa não faltam. Só em 2007 foram lançados dois: Meu Mundo Caiu, Maysa, de Eduardo Logullo (Ed. Novo Século) e Maysa: Só Numa Multidão de Amores, de Lira Neto (Ed. Globo). Jayme Monjardim ainda lançou um de fotos no ano passado, também da Editora Globo, Maysa: Fotos. Oportunidades para conhecê-la não faltam.

Grease is the word


Há 30 anos Hollywood sofreu sua segunda invasão de jaquetas de couro, blue jeans, bad boys, garotas e carros envenenados. Só que esta foi uma invasão musical, muito diferente da juventude transviada de James Dean. Era o musical Grease (mais conhecido no Brasil como "Nos Tempos da Brilhantina"), um dos primeiros sucessos de John Travolta, ao lado de Olivia Newton-John, a Madonna dos anos 70, por assim dizer.


No final do ano passado, encontrei, por acaso, naquele caos habitual das Lojas Americanas, o DVD comemorativo dos 30 anos de Grease. Mesmo já tendo o DVD normal de Grease, assim como as versões dublada e legendada em vídeo (para não mencionar a trilha sonora em LP e CD), não resisti e comprei o tal DVD comemorativo que prometia vários extras inéditos. Foi realmente uma ótima aquisição, pois os extras eram divertidíssimos e havia até uma reunião do elenco para celebrar as três décadas do filme. O que me assusta um pouco é a passagem do tempo. Puxa, quem diria que esse filme chegaria tão longe? Sou fã dele há 15 anos e só agora me dei conta disso. Grease tornou-se uma espécie de clássico da cultura pop contemporânea. Todo mundo conhece alguém que viu Grease montes de vezes, que comprou o disco e que decorou as músicas. Sucesso estrondoso em todo o mundo, a trilha sonora mescla canções compostas especialmente para o filme com clássicos consagrados da década de 1950. Entre os destaques de Olivia e John estão as irresistíveis You're The One That I Want e Summer Nights. Sha-Na-Na, Louis St. Louis e Cindy Bullens se encarregaram de clássicos como Blue Moon, Hound Dog, It's Raining On Prom Night e Tears On My Pillow, entre outros.


Em sua estréia mundial, em 1978, o filme abocanhou mais de 340 milhões de dólares, tornando-se o musical mais bem sucedido de todos os tempos, recorde que até hoje se mantém de pé. Só mesmo um filme mágico como Grease pode nos fazer esquecer momentaneamente o fato de estarmos assistindo adultos de trinta e poucos anos interpretando adolescentes do segundo grau. E o pior (quer dizer, melhor) é que em nenhum momento isso é um problema quando vemos o filme. Somos simplesmente seduzidos pelo carisma do elenco, das canções, dos cenários e pela ingenuidade romântica da história. Tenho certeza que o filme sempre terá, a cada geração, uma nova legião de novos fãs que, como eu, ainda vão se aglomerar nas Lojas Americanas para comprar mais uma edição comemorativa do DVD de Grease.
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