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Fazendo jus ao ABBA


Minha amiga Ruth me mandou um link de uma notícia sobre o ABBA que saiu no UOL, escrita por Pedro Carvalho. Resolvi colocá-la aqui. Por que? Porque é raro (aqui no Brasil) ler uma matéria sobre o ABBA que seja bem escrita, interessante e inteligente. E essa é. Para os fãs, claro, pois quem não curte nem se dará ao trabalho de ler. Mas mesmo os não-fãs podem achar curioso. Era essa a idéia que eu tinha quando fiz o livro sobre a banda: tornar o ABBA um grupo respeitado aqui no Brasil e permitir que os jornalistas ao menos se dessem ao trabalho de conhecer minimamente a banda antes de escreverem as bobagens que rolam por aí. Em suma, aqui vai uma matéria bacana sobre o quarteto:



27/04/2009 - 11h13
Caixa "The Albums" mostra grupo sueco ABBA além dos grandes hits
PEDRO CARVALHO
Colaboração para o UOL


Na esteira do sucesso do filme "Mamma Mia", foi estrategicamente lançada no final de 2008 esta caixa de nove CDs, com todos os álbuns de estúdio da máquina de hits sueca dos anos 70 e mais.

Além dos oito discos originais, em capinhas de papelão imitando as artes dos LPs, "The Albums" traz um CD bônus, com faixas lançadas apenas em singles (como o mega-sucesso "Fernando", de 1976), lados B e raridades como as versões em sueco das músicas "Ring Ring" e "Waterloo".

Os cínicos podem ver o lançamento como redundância ou caça níqueis. Mas ABBA e cinismo são antítese, então tratemos da coleção como uma lição de história pop e, melhor ainda, uma chance de conhecer as diversas facetas de um grupo que costuma ser visto preconceituosamente como uma curiosidade cômica dos anos 70, a despeito de seu valor musical.

Sim, era música leve e despretensiosa, feita para vender. Mas qual é o problema? Se o mesmo pode ser dito sobre a gravadora Motown e boa parte da obra dos Beatles, por que não olhar o ABBA, descendente direto de um padrão inventado por ambos, sob a mesma luz?

Fruto do início dos anos 70, uma era marcada por excessos, seriedade e pretensão, Benny Andersson e Bjorn Ulvaeus, dois jovens veteranos da cena musical sueca, decidiram que o melhor a se fazer era seguir o caminho oposto, com canções de menos de três minutos, temática simples e refrões pegajosos.

Recrutando as cantoras Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad, criaram a fórmula que se tornaria um dos modelos para música pop nas décadas seguintes.

Sobre a base que misturava pop da década de 60, canção popular tradicional e a energia do glam rock dos anos 70, o ABBA absorvia influências latinas, grooves do funk e da soul music e tudo o que pudesse ser transformado num single assobiável.

No primeiro disco, o pouco conhecido "Ring Ring", lançado em 1973 ainda sob o nome de "Björn, Benny, Agnetha & Frida", a sonoridade marcante com a qual conquistariam o mundo ainda não aparece em sua plenitude. Ainda assim, em alguns momentos, como na bem estruturada faixa título, já é possível identificar o embrião do que viria a seguir.

No segundo álbum, "Waterloo", já sob o nome de ABBA, a receita estava pronta. A faixa-título, seu primeiro hit internacional, é o mais perfeito exemplo da fórmula associada à banda. As melodias memoráveis, letras quase infantis de tão simples e, acima de tudo, a combinação de batida marcante e produção grandiosa, seriam as ferramentas com as quais os quatro repetiriam as conquistas de seus antepassados vikings e se tornariam, literalmente, um dos maiores produtos de exportação suecos na década de 70.

A partir daí, a usina de sucessos se estabilizou, com um ou outro ajustes de percurso. Após o terceiro álbum "ABBA", de 1975, fonte de hits como "Mamma Mia" e "SOS", o grupo sentiu a decadência do glam e bubblegum do início da década e trocou o que havia de rock em seu caldeirão pelo balanço das pistas de dança.

Os ouvintes mais roqueiros devem prestar atenção nesta linha de demarcação. A chave para vencer o preconceito está justamente no segundo e terceiro álbuns. Faixas menos conhecidas como "King Kong Song", "Watch Out", "Hey, Hey Helen" e "So Long", com suas guitarras sujas e batidas pesadas não fariam feio em álbuns de bandas como Slade, Sweet, Suzi Quatro ou qualquer outro representante do lado mais divertido do glam rock.

O que veio depois de "Arrival" (1976), no entanto, não oferece muito para quem procura rock. Em canções como "Dancing Queen", a música do ABBA absorveu o impacto da disco, conseguindo adaptar aos ouvidos da classe média anglo saxônica o que era, até então, uma variedade hedonista do funk, associada à cena gay norte-americana.

Foi com este híbrido de disco e pop romântico que o grupo seguiu a partir dali, sem grandes saltos qualitativos até o final em 1982. Mesmo sem redescobrir a roda, não deixaram o poço de sucessos secar, culminando em 1980, com o álbum "Super Trouper" e a épica "The Winner Takes it All".

Do primeiro álbum ao canto dos cisnes "The Visitors", de 1981, está tudo aqui, reeditado da maneira ideal, ou seja, mudando o mínimo possível os lançamentos originais. Seja como anti-depressivo alternativo, prazer culpado, nostalgia ou introdução à obra do ABBA, "The Albums" é uma aquisição valiosa, essencial para fãs e recomendada para os curiosos.

O aniversário da "malvada"


Se a insubstituível Bette Davis ainda estivesse entre nós, estaria completando hoje 101 anos. Parece improvável? Que nada. Vejam como Dercy Gonçalves foi longe. Sem falar no Niemeyer... Bem que ela poderia estar nos brindando com seu talento. Bette Davis na verdade é nome artístico. Seu nome real era Ruth Elizabeth Davis, (5 de abril de 1908 — 6 de outubro de 1989). É até redundante falar que ela foi uma das maiores atrizes norte-americanas de cinema, televisão e teatro. É, sem dúvida, minha atriz favorita. Estigmatizada pela marca da maldade, colocava em suas interpretações toda a fúria contra os esquemas dos estúdios, que lucravam cada vez mais com sua acidez.

Natural de Lowell, Massachussets, seus pais foram Ruth Favor e o advogado Harlow Morrel Davis, descendente de uma família de pioneiros que no século XVII se estabeleceu na costa leste dos Estados Unidos. Um fato marcante de sua vida foi o abandono da sua família pelo pai, o que acabou por fortalecer a relação de Bette com a mãe.

Após alguns anos trabalhando no teatro, Davis mudou-se para Hollywood em 1930, onde interpretou papéis menores em alguns filmes da produtora Universal Studios. Em 1932, por influência do ator veterano George Arliss, seu antigo professor de interpretação, ela foi contratada pela Warner Bros., onde permaneceu até 1950, tornando-se uma das mais populares atrizes da época.

Primeira atriz a receber dez indicações ao Oscar, Davis foi vencedora de duas estatuetas, por Perigosa (1935) e Jezebel (1938). Simplesmente foi indicada ao Oscar por cinco anos consecutivos, de 1938 a 1942, sendo a atual recordista de indicações. Ao lado do ator John Garfield, fundou e comandou a Hollywood Canteen, que angariava fundos e entretia soldados norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Davis foi a primeira mulher a presidir a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

Consciente de que beleza física não era seu melhor atributo, Bette atingiu o estrelato pela contramão. Não tentou ser "deusa" nem bela. Ao contrário, era sutilmente sensual. "Nenhuma maquiagem do mundo conseguiria me transformar numa Jean Harlow", disse. Sabendo disso, explorou até o limite sua capacidade dramática e criou o mito pelo avesso, tornando-se estrela pelo próprio esforço. Mas os adjetivos que chamavam atenção nas traduções dos títulos de seus filmes muitas vezes não tinham nada a ver com ela. A verdade, a despeito do mito, não era como grande parte do público pensa. Por exemplo, a "malvada" do filme A Malvada (All About Eve, 1950) não é Bette, como muitos acham, e sim Anne Baxter (a Eve do título original).

Bette foi também responsável pela elaboração do conceito de "mulher independente" que o cinema americano idealizou. Além de perversa, sádica e autoritária, seus personagens também conheceram facetas mais singelas. Dedicação, generosidade, firmeza de propósitos e até mesmo humildade eram determinantes na composição de suas heroínas. "Sei que fiz por merecer a fama de má, mas às vezes me pergunto se não exageraram um pouco", disse ao receber o prêmio
do American Film Institute, em 1978.

Durante as filmagens de A Malvada, Bette apaixonou-se pelo galã Gary Merrill, seu quarto e último marido, e adotou dois filhos: Margo (que depois se revelou excepcional e precisou ser internada em um sanatório) e Michael. Bette tinha uma filha legítima, Barbara, do terceiro marido, o pintor William Grant Sherry, que nasceu quando a atriz estava com 39 anos.

Quando a idade começou a pesar, lá pelo final dos anos 50 e início dos 60, os trabalhos ficaram escassos e os estúdios a deixaram de lado. Não pensou duas vezes antes de lutar pelo que queria. E em 21 de setembro de 1962, colocou na Variety o famoso anúncio:


ARTISTA PROCURA EMPREGO

Americana, divorciada, mãe de três filhos (15, 11 e 10 anos). Trinta anos de experiência como atriz de cinema. Ainda em condições de movimentar-se e mais afável do que dizem os boatos. Deseja emprego em Hollywood. (Fartou-se da Broadway). Respostas para: Bette Davis a/c Martin Baum, G.A.C.

DÁ REFERÊNCIAS.


Foi nessa época que começou a fazer filmes para a TV e filmes de terror psicológico, todos de baixo orçamento. Isso em nada a fez sentir-se menor. Seu desempenho, no entanto, continuava admirável sob todos os aspectos.

Aos 77 anos, extirpou os dois seios cancerosos. Para piorar, quebrou a bacia após um tombo da escada e ainda sofreu um derrame cerebral. Após intensa terapia, filmou seu último trabalho, As Baleias de Agosto (1987). Recebeu a mais alta comenda francesa, a Legião de Honra.

Não foi à toa que Humphrey Bogart a chamou de the warrior (a guerreira). Ela fez jus a essa definição até a morte, quando o câncer a venceu em um hospital de Paris, aos 81 anos. E fumou, todos os dias até morrer, dois maços de cigarros.

Kim Carnes prestou homenagem a ela em 1981 ao gravar Bette Davis Eyes, música que passou nada menos do que nove semanas consecutivas no primeiro lugar do Billboard Hot 100. Foram vendidas oito milhões de cópias do álbum que incluía a canção, vencedora do prêmio Grammy de "Canção de Ano". Bette declarou-se fã da canção, tendo agradecido aos compositores por terem feito dela uma parte dos tempos modernos.

Possui duas estrelas na Calçada da Fama, uma referente ao seu trabalho no cinema e outra referente ao seu trabalho na televisão.
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