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Entrevista com Lori Lethin

Três crianças nascem durante um eclipse total do sol. Todas vivem normalmente, até que aos dez anos elas começam a matar sem motivo aparente. Mas quem desconfiaria de crianças tão amáveis, com rostinhos tão angelicais? Os únicos que descobrem a verdade são Joyce e seu irmão, o garoto Timmy. Joyce tem vinte e poucos anos e é a típica moça certinha: prestativa, estudiosa, responsável e ajuizada. Timmy tem 10 anos, é um bom garoto e, para seu azar, é coleguinha de escola dos três psicopatas mirins. Joyce e Timmy são implacavelmente caçados pelos pequenos possuídos. Mas não é nada fácil escapar do instinto assassino desse trio de pestes. Essa é a história de Aniversário Sangrento (Bloody Birthday, 1980), filme de Ed Hunt. Um irresistível clássico trash dos filmes de terror dos anos 80.


Timmy (K.C. Martel) e Joyce (Lori Lethin) em Aniversário Sangrento
O trio de psicopatas mirins de Aniversário Sangrento
Lori Lethin em Aniversário Sangrento

Joyce, a mocinha do filme, foi vivida pela atriz Lori Lethin. Nascida em 4 de agosto de 1955, em Los Angeles, Califórnia, Lori trabalhou intensamente na TV americana durante a década de 1980, participando de várias séries e filmes. Naquela época, viveu seu momento de scream queen ("rainha do grito"), emplacando um filme de terror atrás do outro.

Tudo começou no final dos anos 70, quando ela resolveu botar a mochila nas costas e partir para Hollywood. Na época Lori trabalhava como garçonete na Ilha de Santa Catalina, Califórnia. Ela se perguntava o que faria após o término de seu summer job (emprego de verão; prática muito comum entre os jovens americanos). Foi aí que ocorreu-lhe a ideia de trabalhar como atriz. "Parecia tão fácil!", diverte-se ela ao lembrar daqueles tempos. Dali em diante, as coisas tomaram um rumo natural.


O primeiro trabalho como atriz foi no episódio Panteras Transviadas, na 3ª temporada da série As Panteras, que foi ao ar em fevereiro de 1979. Logo em seguida viriam diversas outras participações em várias séries de TV bem populares da época como Os Gatões (1980), Magnum (1983), Esquadrão Classe A (1984) e dezenas de outras.

Lori com Jaclyn Smith em As Panteras
Lori com Tom Wopat e John Schneider em Os Gatões

Em 1981 Lori participou do média-metragem A Onda, produzido para a TV americana e baseado em em um fato real ocorrido numa escola da cidade de Palo Alto, nos EUA. Durante uma aula de História sobre o nazismo na Alemanha, alguns alunos insistiam em repetir que aquilo jamais aconteceria novamente no mundo. Então, o professor resolve fazer uma experiência pedagógica: cria todas as condições necessárias para o nascimento de um grupo e simula um partido fascista. Mas a experiência foge do controle e revela o lado perigoso do movimento criado. Originalmente produzido como um especial do canal ABC (ABC Afterschool Special), a emissora resolveu exibir o filme em horário nobre, como parte da série ABC Theater for Young Americans, em outubro de 1981. 

A Onda
Embora estivesse curtindo o sucesso na TV, foi no cinema que ela sentiu o gostinho da fama por participar de três filmes de terror que se tornaram cult: Aniversário Sangrento (1980), Depredador (1984) e De Volta à Escola dos Horrores (1987), onde atuou ao lado do então iniciante e futuro galã George Clooney. O filme, que combinava comédia e terror, foi precursor de sucessos como Pânico (Scream, 1996).

Lori em De Volta à Escola de Horrores
"Acho que foi por causa da minha carinha bem comum, sabe. O tipo inocente que sempre entra no corredor escuro mesmo quando todo mundo sabe que não deveria. Sem dúvida curti muito. Era tão divertido trabalhar em filmes de terror!", relembra ela. 

Apesar de Lori ser mais conhecida pelos clássicos cult Aniversário Sangrento e De Volta à Escola dos Horrores, uma de suas atuações mais elogiadas foi no telefilme O Dia Seguinte (The Day After, 1983), ao lado de Jason Robards, JoBeth Williams,  Steve Guttenberg, John Lithgow e outros. Lori viveu Denise, uma jovem noiva prestes a se casar que se vê no meio de uma catástrofe nuclear. 


O último trabalho de Lori no cinema foi no drama de 1999 A Viagem, com Claire Danes, Kate Beckinsale e Bill Pullman. Desde então deixou a carreira de atriz para se tornar psicóloga. Mas até hoje seu rosto ainda é popular nos EUA e ela é sempre lembrada por seus papéis na TV e nos filmes cult. Lori conversou comigo por e-mail e deu uma entrevista exclusiva para o blog. Mais: disse que ainda quer visitar o Brasil.


DANIEL COURI: Quando você decidiu seguir a carreira de atriz, tinha algum gênero específico em mente (como o terror, por exemplo) ou tudo aconteceu por acaso?
LORI LETHIN: Aconteceu mesmo por acaso! Na época [começo dos anos 80] havia um monte de filmes de terror sendo feitos... Parecia que a cada semana estreava um. Por isso eu me saía tão bem fazendo cara de espanto!

DC: Como você conseguiu o papel no episódio de As Panteras
LL: Foi minha primeira entrevista de trabalho. Eu não tinha ideia do que estava fazendo. Por fim o diretor de elenco disse "Lori, é só ler as falas". Aquilo era novidade pra mim! Creio que eles gostaram da minha aparência ingênua... Acho que foi por isso que consegui o papel. 

Lori em As Panteras
DC: Havia muitas outras garotas na disputa?
LL: Sim, tinha uma sala cheia de garotas fazendo testes para o papel.

DC: Você atuou em vários episódios de séries de TV, grande parte delas muito famosas não apenas nos EUA mas também mundo afora. No entanto, naquela época, a televisão não era tão "respeitada" como um veículo para atores e atrizes. Hoje as coisas são bem diferentes. Artistas renomados têm participado cada vez mais e recebido elogios pelos trabalhos. Não só o público como também a crítica os aplaude. Como você encara essa mudança de atitude em relação à TV nos EUA? 
LL: A TV a cabo propiciou a expansão da televisão como um veículo de respeito. Com isso, os papeis foram ficando mais interessantes para os artistas. Quando comecei, havia basicamente cinco ou seis estações de TV. Veja como as coisas mudaram. Acho isso ótimo. Há uma gama enorme de programação de qualidade nos canais a cabo.

Lori com Elliot Gould em Plantão Médico
DC: Quando você se tornou psicóloga? Essa área já te atraía ou seu interesse apareceu mais tarde?
LL: Sempre me interessei pelo comportamento humano. Acho que era isso que tornava o trabalho de atriz tão atraente, no meu caso. Eu era capaz de entrar na alma de outras pessoas e trazer aquela experiência para a tela. Terminei minha faculdade de Psicologia há um ano e agora estou colocando o que aprendi em prática para obter minha licença. É um trabalho muito gratificante.

DC: Você tem três filhos. Quais as idades deles?
LL: Eles têm 17, 23 e 30.

DC: Como reagem quando ouvem que a mãe já foi "rainha do grito"? Eles acham divertido?
LL: Eles adoram e acham o máximo esse negócio de "rainha do grito". Afinal, quantos jovens têm a chance de dizer que a mãe trabalhava como atriz de filmes cult de terror? Isso é muito legal. 

DC: Dos três filmes de terror nos quais você atuou, qual é seu preferido?
LL: De Volta à Escola de Horrores. Não só por causa do George Clooney (risos). Foi tão divertido fazer três personagens diferentes. Para diferenciá-las, eu usava uma peruca bem vagabunda (muito brega, eu adorava!). Também achei um barato o fato do filme ter sido uma continuação de um filme que nunca existiu! Os outros atores também eram ótimos. Foi como participar de uma colônia de férias.

Lori em De Volta à Escola dos Horrores
George Clooney em De Volta à Escola dos Horrores
DC: Em Aniversário Sangrento sua personagem corria perigo quase o tempo todo. Você usou dublês?
LL: Fiz todas as cenas. Era um filme de baixo orçamento. Sempre fui minha própria dublê. A impressão que tenho é que em todos os papéis que fiz, estava sempre correndo e fugindo de alguém!


Sempre correndo perigo em Aniversário Sangrento

DC: Como você se sente quando vê uma nova geração descobrindo seus filmes de terror e se empolgando com seu trabalho?
LL: Ah, eu adoro! Os filmes de terror dos anos 80 têm uma tipo e uma aura muito específicos... São quase cômicos comparados ao estilo dos filmes de terror de hoje.

DC: Oque fez com que você se afastasse do trabalho de atriz?
LL: Essa é fácil. Eu simplesmente queria criar meus filhos. Foi uma questão de sentimento. Adoro ser mãe!

Lori em 2010
DC: Sente saudades de ser atriz?
LL: Às vezes sinto... Mas adoro trabalhar com pessoas nesta nova carreira que escolhi. Trabalho para uma organização sem fins lucrativos, então minha profissão fica ainda mais significativa, especialmente neste período da minha vida.


FILMOGRAFIA COMPLETA

Filmes:

Aniversário Sangrento (Bloody Birthday, 1980)
A Espera de Golias (Goliath Awaits, 1981)
O Dia Seguinte (The Day After, 1983)
For Love or Money (1984)
Depredador (The Prey, 1984)
Means and Ends (1984)
De Volta à Escola de Horrores (Return to Horror High, 1987)
O Triângulo Prateado (The Platinum Triangle, 1989)
A Viagem (Brokedown Palace, 1999)

Lori em De Volta à Escola de Horrores



Média-metragens:

A Onda (The Wave, 1981)
The Magic Boy's Easter (1989)

A Onda














Participações em séries de TV:

As Panteras (Charlie's Angels / Episódio Panteras Transviadas - Teen Angels, 1979)
A Man Called Sloane (Episódio Architect of Evil, 1979) 
Barnaby Jones (Episódio The Final Victim, 1980)
Os Gatões (The Dukes of Hazzard / Episódio Southern Comfurts, 1980)
Freebie and the Bean (Epsiódio The Seduction of the Bean, 1980)
Palmerstown, U.S.A. (Episódio Vendetta, 1981)
Hill Street Blues (Episódio Rain of Terror, 1982)
Magnum (Magnum, P.I. / Episódio A Grande Rajada - The Big Blow, 1983)
The Mississippi (Episódio G.I. Blues, 1983)
This Is the Life (Episódio The Gathering Dark, 1984)
The Master (Episódio Out-of-Time-Step, 1984)
Esquadrão Classe A (The A-Team / Episódio Os Terroristas - Harder Than It Looks, 1984)
Plantão Médico (ER / Episódio Sentimental Journey, 1984)
Arnold (Episódio A Special Friend, 1985)
Crazy Like a Fox (Episódio Desert Fox, 1985)
The Insiders (Episódio Gun Runners, 1985)
Matlock (Episódio Diary of a Perfect Murder, 1986)
Assassinato por Escrito (Murder She Wrote / Episódio If a Body Meet a Body, 1986)
Stingray (Episódio Abnormal Psych, 1986)
Throb (Episódio The Party, 1986)
Starman (Episódio Dusty 1987)
O Lobisomem ataca de novo (Werewolf / Episódio Eye of the Storm, 1987)
Ohara (Episódio And a Child Shall Lead Them, 1987)

Lori com Andy Griffith em Matlock




















Agradecimentos: Nathan Johnson 

Sexta básica de (in)utilidades


Reuniões – Outrora, após o jantar ou durante o serão, os homens reuniam-se no “fumoir”, ou na sala de jogo, enquanto as senhoras permaneciam na sala. Hoje, já não há necessidade de separar os convidados, pois as senhoras fumam quase tanto quanto os homens... Para o êxito de uma reunião, é preciso que os convidados se sintam à vontade, e as conversas sejam animadas e variadas, entre todos.


Fonte: Dicionário do Lar – Vol. IV
Editora Logos, 1964.

Empilhamento já!


Vivendo - ou melhor, vendo TV - e aprendendo. Esta semana eu estava assistindo ao Mais Você sem prestar muita atenção, enquanto tomava o café da manhã. De repente uma matéria sobre vício em redes sociais e aplicativos em telefones celulares me chamou a atenção. Não que eu seja um dos viciados, longe disso! Tenho enorme implicância com essa mania irritante da atualidade.

A reportagem do programa de Ana Maria Braga foi às ruas de São Paulo para testar o grau de vício das pessoas. E mostrou um jogo chamado "phone stacking" (empilhamento de telefone), para quem não consegue largar o celular ou smartphone nem na hora das refeições ou mesmo em uma mesa de bar. O joguinho funciona assim: um grupo de amigos empilha os celulares na mesa e tem que aguentar firme até o final da refeição (ou comemoração) sem checar os aparelhos. Quem não resistir e pegar o celular, perde a competição e tem que pagar a conta toda sozinho. Se todos resistirem numa boa, a conta é dividida normalmente. 

Apesar de achar uma maluquice, é muito válida essa ideia de tentar diminuir o vício que atinge grande parte da população mundial hoje em dia. Nos Estados Unidos o "phone stacking" já virou moda, mas ainda não é tão difundido aqui Brasil. Eu sou mais radical. Por mim, os bares e restaurantes deviam proibir o uso dessas geringonças, principalmente durante uma confraternização ou um jantar. Deviam pendurar umas placas assim: "Não são permitidos animais e nem celulares". Uns quinze anos atrás ninguém era escravo desses aparelhos. Era normal se reunir com amigos para almoçar, beber ou conversar sem essa ânsia doentia para olhar mensagens do Twitter ou do Facebook.

Além de extrema indelicadeza, é uma coisa totalmente fora de propósito. Outro dia eu estava em um bar com alguns amigos e observava um casal de uma mesa próxima. Os dois devem ter permanecido lá por mais de duas horas, sentados e mexendo em seus respectivos celulares. De vez em quando pediam um vinho, trocavam duas ou três palavras e continuavam com o vício eletrônico. Pareciam muito entusiasmados. Sei que eu não tinha nada com a vida deles, mas aquilo me incomodou e me deixou muito intrigado. Por que diabos um casal de namorados, jovens e bonitos, sai de casa e vai a um bar badalado e caro para ficar feito um par de idiotas, cada um hipnotizado por seu telefone celular? 

Em outra ocasião, num restaurante, um grupo de jovens em uma mesa parecia comemorar alguma data especial. Todos empunhavam seus celulares, claro. Quando os pratos chegaram (pareciam muito apetitosos, por sinal) ninguém tocou em nada. O que fizeram? Começaram a fotografar tudo, dos mais diversos ângulos. Coisa mais esquisita! Agora também é moda fotografar a comida antes de comê-la. Aliás, agora é moda fotografar TUDO pelo celular. O poste, o meio fio, a vista da janela dos fundos do quarto de hóspedes, o vira-lata no meio da rua, a xícara de café na mesa da lanchonete... 

"Quero que você desligue seu celular"
Ninguém mais parece se lembrar, mas a função primordial do telefone celular é fazer e receber ligações. Não estou cuspindo no prato em que como, afinal o celular quebra muitos galhos e tem seu lugar garantido na lista de utilidade do mundo moderno. Mas começar a viver em função disso? Conectado 24 horas por dia, 7 dias por semana? Ter a 'obrigação' de ler um e-mail de trabalho que chega às 3h30 da madrugada? Responder imediatamente as mensagens de texto de um amigo carente que resolve te contar a vida dele bem na hora da novela? Esse mundo de hoje cria as "urgências" mais malucas. Comigo não, violão. Eu mesmo nunca me dei ao trabalho de comprar um aparelho moderno e cheio de funções. Tudo o que quero (e uso) é um celular bem simples, daquele tipo que jamais será roubado onde quer que eu o deixe. Nada cobiçado, ele possui apenas as as funções básicas de um telefone móvel e é assim que eu gosto.

E aquelas pessoas que começam a telefonar para os outros antes das 8h da manhã? Chega a ser hilário. Danuza Leão explica em Na Sala com Danuza (Companhia das Letras, 2007) que é proibido telefonar antes das dez da manhã e depois das onze da noite (desde que você seja uma pessoa normal). Pena que hoje em dia ninguém respeite mais a privacidade alheia. Aliás, vale a pena ler (e reler, reler, reler) o capítulo 19 (Quem fala?), onde Danuza ensina:

Celular é uma coisa quase particular. Evite ligar para quem quer que seja, a não ser em caso de necessidade. Também não pergunte o número do celular de ninguém, a pessoa só dá se quiser. Existem algumas que dão o número para todo mundo, pois a-do-ram que, durante um almoço, o celular toque dezoito vezes, para que todos vejam o quanto elas são assediadas.

As pessoas não conseguem mais se olhar nos olhos porque eles estão sempre grudados na tela do celular, nos aplicativos, nas mensagens, nas fotos... Nos cinemas e teatros é ainda mais revoltante, fico indignado. Grande parte do público não para de checar as malditas mensagens e chamadas durante a peça ou o filme. E algumas ainda deixam o aparelho tocar! Se você não consegue ficar uma hora e meia dentro de um cinema sem olhar o celular de 15 em 15 minutos, algo está muito errado. Do jeito que estamos indo, não sei aonde vamos parar. 

Fim de uma era mesmo


Ainda nem me acostumei com a triste notícia da morte de Donna Summer, ocorrida no último dia 17, e ontem outra perda no mundo da música foi anunciada: Robin Gibb, dos Bee Gees. O trio já havia sido desfalcado em 2003, quando o outro irmão, Maurice, faleceu. Agora restou apenas Barry, o mais velho. (Andy Gibb, caçula dos irmãos Gibb que trilhou carreira solo, já havia falecido em 1988).

Donna Summer e Robin Gibb: duas perdas de maio de 2012
Uma triste coincidência que dois artistas como Donna Summer e Robin Gibb - que brilharam intensamente na época das discotecas - tenham partido quase ao mesmo tempo. Apesar de terem se reinventado após o declínio do movimento disco, no começo dos ano 80, tanto Donna quanto os Bee Gees até hoje são associados à disco music, apesar de terem superado esse rótulo há décadas.


Artistas que com seu talento (eram cantores, compositores, produtores) construíram uma carreira sólida no mundo da música, venceram turbulências em diferentes épocas e conquistaram o respeito da crítica. Afinal, não é fácil para um cantor ou grupo ser levado a sério depois de fazer imenso sucesso com hits da era disco. Donna Summer e os Bee Gees souberam fazer isso como poucos.

Donna Summer e Andy Gibb na premiação do Grammy de 1978
Donna e os Bee Gees chegaram a cantar juntos em um grande show beneficente, A Gift of Song - The Music For UNICEF Concert, em janeiro de 1979. Na ocasião, os Bee Gees foram mestres de cerimônia da festa, que aconteceu na Assembléia Geral das Nações Unidas, em Nova York. O evento abria as comemorações que declaravam 1979 como o Ano Internacional da Criança. O objetivo era arrecadar fundos para programas de combate à fome do UNICEF - órgão da ONU (Organização das Nações Unidas) responsável pelo amparo e bem-estar da criança no mundo.


Além dos Bee Gees e Donna Summer, outros grandes artistas da época (ABBA; Rod Stewart; Olivia Newton-John; Andy Gibb; Earth, Wind & Fire; John Denver; Kris Kristofferson e Rita Coolidge) também participaram do grande show. Cada um doou os direitos autorais de uma canção para o UNICEF.

No ano passado Robin Gibb fora submetido a uma cirurgia para corrigir uma obstrução intestinal (o mesmo problema que em 2003 provocou a morte de seu irmão gêmeo, Maurice). Mas depois de anunciar que estava curado, o músico descobriu um câncer no cólon e no fígado, que rapidamente se desenvolveu, agravado por uma pneumonia.

No caso de Donna, ela sofria de câncer de pulmão e acreditava ter desenvolvido a doença depois de inalar partículas tóxicas durante os ataques terroristas de 11 de setembro [2001], em Nova York. 

Além de terem atingido o auge do sucesso na década de 1970, tanto Donna Summer quanto os Bee Gees colecionaram vários prêmios Grammy e muitos milhões de discos vendidos. Ela foi a única a ter três discos duplos consecutivos em primeiro lugar na lista de mais vendidos. Foi também a primeira cantora com quatro compactos N°1 em um período de 13 meses, de acordo com o Rock 'n' Roll Hall of Fame, onde foi homenageada neste ano. Já Robin Gibb entrou para o Hall da Fama de compositores em 1994, assim como os Bee Gees foram incluídos três anos mais tarde.

Bee Gees
No Fantástico de janeiro de 1979, Cid Moreira anunciava o clipe de Last Dance, sucesso que Donna lançara no ano anterior como parte da trilha sonora do filme Até Que Enfim é Sexta-Feira (Thank God It's Friday): "Em todas as listas de Melhores do Ano em 1978, nos EUA e na Europa, em primeiro ou segundo lugar, dividindo com os Bee Gees os prêmios de voz e de discos, aparece o nome desta cantora: Donna Summer".


Donna Summer canta Last Dance no Fantástico (1979)
Na década de 1980, paralelamente aos Bee Gees, Robin decidiu investir também na carreira solo. Lançou três álbuns: How Old Are You? (1983), com o hit Juliet; Secret Agent (1984), famoso pela canção Boys Do Fall in Love; e Walls Have Eyes (1985), que emplacou Like a Fool.


O último álbum dos Bee Gees foi This Is Where I Came In, de 2001. Em 2008 Robin seguiu em sua carreira solo se apresentando em vários países e cantando sucessos seus e dos Bee Gees. O último álbum de Donna Summer, também de 2008, foi Crayons.



Laura Palmer no canal Viva


Twin Peaks, um dos maiores fenômenos televisivos mundias, voltou à programação da TV no último dia 1° de maio. A série, criada por Mark Frost e David Lynch, estreou na programação do canal Viva na nova faixa "Clássicos em Série", de segunda a sexta às 22h30, com reapresentação aos domingos às 23h. A escolha não poderia ter sido mais feliz. O Viva (canal de TV por assinatura pertencente à Rede Globo) caiu no gosto dos telespectadores principalmente por trazer de volta à TV novelas de grande sucesso como Vale Tudo (1988) e Roque Santeiro (1985), além de vários outros programas que marcaram época na emissora.

No primeiro trimestre de 2012, o Viva registrou um aumento de 56% em sua cobertura no horário nobre – cerca de 24 milhões de telespectadores - comparado ao mesmo período do ano passado. Com este resultado, o canal, há quase dois anos no ar, consolidou-se entre os dez mais assistidos da TV por assinatura.

Cultuada por uma enorme e incansável legião de fãs, Twin Peaks fez ecoar no mundo todo a famosa pergunta "quem matou Laura Palmer?". O episódio piloto da série foi exibido pela primeira vez em 8 de abril de 1990 na rede de televisão americana ABC, que acabou originando outros sete episódios que formam sua primeira temporada. A segunda temporada teve 22 episódios e foi ao ar até 10 de junho de 1991. 

Mark Frost e David Lynch
Mark Frost disse em entrevista à Ana Maria Bahiana em 1990: “No início, nós tínhamos a história do piloto, só. Porque nós não sabíamos se íamos ou não fazer uma série... Depois, a história aumentou, mas David precisou sair para cuidar de Coração Selvagem, e eu fiquei mais ou menos sozinho tendo que administrar 40 personagens diferentes que tinham, entre si, mais de 800 relações... Eu sabia onde eu queria ir, e, é claro, desde o início sabíamos quem havia assassinado Laura. E esse é o grande fascínio de uma série de TV, uma história por noite, é como Sherazade nas Mil e Umas Noites...” [Revista SET, Ed. 48 – ano V – Nº 6. – Julho de 1991]

Quando o piloto foi lançado em VHS, tornou-se um cult. Aqui no Brasil, a série só começou a ser transmitida pela Globo em 7 de abril de 1991, aos domingos, logo após o Fantástico. Devido à insatisfação com a audiência, a emissora passou a pular alguns episódios e logo depois cancelou por completo sua transmissão, criando uma verdadeira confusão entre os que tentavam acompanhar Twin Peaks. Para piorar, a dublagem continha vários erros de tradução, o que só ajudava a complicar ainda mais as coisas. Os brasileiros, frustrados, ficaram sem saber muitos detalhes da série e, principalmente, qual tinha sido seu desfecho real. (Afinal, aqueles eram tempos pré-internet...)  




Twin Peaks – “Picos Gêmeos”, uma expressão normalmente empregada para as glândulas mamarias femininas – é o nome de uma cidadezinha fictícia no noroeste dos EUA, quase encostada na fronteira com o Canadá. Sua poderosa economia gira em torno de uma madeireira. É num dos lagos que embelezam a região que amanhece o cadáver de Laura Palmer, uma loira adolescente que, além de namorada do capitão do time de futebol da escola, é adorada por todos os habitantes como um exemplo de generosidade. 
(Revista SET, Ed. 40 – ano IV – Nº 10 - Novembro de 1990)


Os mistérios envolvendo o crime afetavam direta ou indiretamente a vida de todos os excêntricos moradores da cidade, numa teia de acontecimentos bizarros e, por vezes, sobrenaturais. A Set de dezembro de 1990 trouxe uma entrevista com David Lynch feita por Ana Maria Bahiana. O diretor falou um pouco sobre a experiência com a série:

Ana Maria Bahiana – Muitos diretores são contra a TV. Você vê a TV como sendo um problema?
David Lynch – Eu também era contra a TV. E nunca havia sonhado trabalhar nela. Mas tive uma ótima experiência com Twin Peaks. Me deixaram completamente à vontade, na minha. Pude fazer tudo o que quis, dentro dos limites normais da televisão. E foi fantástico. (...) Sou apaixonado pelo conceito de telenovela, uma historia que continua. E isso eu pude oferecer: uma maneira de as pessoas conhecerem determinado personagem, que passa por tantas mudanças ao longo da história, uma coisa que você não pode fazer num filme.

"Twin Peaks é um trabalho importante da TV e faz uso do formato épico e de códigos típicos da telenovela, inspirados por dramas como A Caldeira do Diabo (Peyton Place) e combinados com uma intrincada história policial, elementos do fantástico e uma dose generosa de comédia do absurdo". (Masters of cinema – David Lynch, de Thierry Jousse, 2010). 

Como disse José Augusto Lemos na conclusão de sua matéria para a Set de novembro de 1990: "Seja como for, você nunca mais será o mesmo – desde os primeiros acordes da trilha assinada por Angelo Badalamenti, outra iluminada contribuição a esse passo decisivo na evolução humana que é transformar a televisão num veículo sensível e inteligente".

Há na internet uma infinidade de sites dedicados a Twin Peaks, com todo tipo de informação sobre a série. Desde os fatos mais conhecidos até as curiosidades mais inusitadas. Mas se você ainda não assistiu, muito cuidado com os spoilers na rede. Afinal, o grande charme da série é justamente mergulhar em seus mistérios. Fiz um apanhado de fatos curiosos (coincidentes ou intencionais) sobre a produção da série. Tomei o cuidado de não incluir nenhuma informação "comprometedora" aqui, ou seja, leia sem medo de estragar o suspense:

- A estampa do piso da Sala Vermelha é uma versão ampliada da estampa do chão da sala da casa do personagem Henry, de Eraserhead (1977), também dirigido David Lynch. A mesma estampa também aparece no casaco que Leland Palmer (Ray Wise) está usando no fim do primeiro episódio, quando ele dança com o retrato de Laura (Sheryl Lee). 

Twin Peaks (1990)

Estampa do casaco de Leland é a mesma do piso

Eraserhead (1977)


- O número de Hank Jennings (Chris Mulkey) na prisão é 24601, o mesmo de Jean Valjean em Os Miseráveis

Chris Mulkey viveu Hank Jennings
- Nunca é revelado quem de fato atacou o Dr. Jacoby (Russ Tamblyn) no episódio 7 mas, de acordo com Mark Frost, foi a mesma pessoa que matou Laura Palmer. 

- David Lynch e Mark Frost estavam trabalhando originalmente em uma adaptação para o cinema de Goddess, biografia de Marilyn Monroe escrita por Anthony Summers. Como não conseguiram os direitos do livro, o projeto no qual embarcaram em seguida, Twin Peaks, continha vários elementos da história de Marilyn - especialmente o fato de ela ter sido morta logo antes de mencionar em seu diário que iria contar ao mundo sobre o homem famoso e importante com quem estava tendo um caso. 


- O primeiro título pensado para Twin Peaks foi Northwest Passage. A personagem Josie Packard (vivida por Joan Chen) chamava-se originalmente Giovanna "Jo" Pasqualini Packard e seria interpretada por Isabella Rossellini, que na época namorava David Lynch. 

Isabella Rossellini e Joan Chen
- Sheryl Lee faz dois papéis: Laura Palmer (loira) e sua prima (morena). No filme Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958), de Alfred Hitchcock, Kim Novak também faz dois papeis, uma loira e outra morena. Uma das personagens se chama Madeleine, e o personagem de James Stewart se chama John Ferguson. O nome da prima de Laura Palmer é uma fusão desses dois nomes: Madeleine Ferguson. 

- A personagem Madeleine Ferguson foi criada porque Lynch estava tão impressionado por Sheryl que quis tê-la regularmente na série. Outro detalhe: na trama, a personagem está vindo de Missoula. Missoula, no estado americano de Montana, é a cidade natal de David Lynch. 

Madeleine e Laura: ambas vividas por Sheryl Lee
- A população de Twin Peaks, na concepção original, deveria ser de 5120 habitantes. No entanto, na época havia uma recusa contra séries de TV com temática rural. As redes de TV temiam que a população urbana e suburbana em ascensão nos Estados Unidos não se identificassem com programas que se passassem em áreas rurais ou cidades do interior.Por isso foi pedido à rede ABC que na placa de Twin Peaks o número da população fosse 51201 em vez de 5120. No livro Visitor's Guide to Twin Peaks, autorizado por David Lynch e Mark Frost, uma nota explica aos leitores que a população era, de fato, 5120, mas devido a um erro tipográfico, apareceu 51201. 


- O piloto da série foi originalmente exibido como um filme de duas horas para a TV, mas foi depois dividido em um episódio de duas partes para a série. Houve também uma versão para o cinema do episódio piloto, lançada na Europa.


- O agente de seguros que vai falar com Catherine (Piper Laurie) a respeito do seguro forjado se chama Walter Neff. O agente de seguros desonesto vivido por Fred MacMurray em Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944) também se chama Walter Neff. 

- Na Alemanha, a emissora de TV RTL cancelou a série após 20 episódios devido à baixa audiência. Tudo porque a SAT1, emissora rival, havia divulgado a identidade do assassino de Laura antes mesmo do primeiro episódio ir ao ar. 

- O personagem BOB surgiu quando David Lynch viu o cenógrafo Frank Silva escondido no quarto de Laura Palmer. Lynch filmou a famosa cena onde Silva aparece atrás da cama de Laura sem ter ideia de como ou por que a usaria. Mais tarde, quando filmava uma cena de Sarah Palmer (Grace Zabriskie) sentada gritando, Lynch notou que o reflexo de Silva era visível, por puro acidente. Foi aí que o diretor teve a ideia do personagem BOB como uma espécie de espírito de outro mundo, criando assim todo o mito que envolvia a série. 

Frank Silva: BOB
- Quando Twin Peaks foi ao ar pela primeira vez nos EUA, dois livros oficiais foram lançados como  prequels (narrativas anteriores ao início da série): Dale Cooper - Minha Vida, Minhas Gravações e O Diário Secreto de Laura Palmer (ambos lançados no Brasil pela Editora Globo em 1991). O Diário foi encomendado por Lynch à sua filha Jennifer, então com 21 anos, a quem ele revelou todos os segredos de  Twin Peaks para que o livro refletisse os acontecimentos da série com precisão. 




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