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Laura Palmer no canal Viva


Twin Peaks, um dos maiores fenômenos televisivos mundias, voltou à programação da TV no último dia 1° de maio. A série, criada por Mark Frost e David Lynch, estreou na programação do canal Viva na nova faixa "Clássicos em Série", de segunda a sexta às 22h30, com reapresentação aos domingos às 23h. A escolha não poderia ter sido mais feliz. O Viva (canal de TV por assinatura pertencente à Rede Globo) caiu no gosto dos telespectadores principalmente por trazer de volta à TV novelas de grande sucesso como Vale Tudo (1988) e Roque Santeiro (1985), além de vários outros programas que marcaram época na emissora.

No primeiro trimestre de 2012, o Viva registrou um aumento de 56% em sua cobertura no horário nobre – cerca de 24 milhões de telespectadores - comparado ao mesmo período do ano passado. Com este resultado, o canal, há quase dois anos no ar, consolidou-se entre os dez mais assistidos da TV por assinatura.

Cultuada por uma enorme e incansável legião de fãs, Twin Peaks fez ecoar no mundo todo a famosa pergunta "quem matou Laura Palmer?". O episódio piloto da série foi exibido pela primeira vez em 8 de abril de 1990 na rede de televisão americana ABC, que acabou originando outros sete episódios que formam sua primeira temporada. A segunda temporada teve 22 episódios e foi ao ar até 10 de junho de 1991. 

Mark Frost e David Lynch
Mark Frost disse em entrevista à Ana Maria Bahiana em 1990: “No início, nós tínhamos a história do piloto, só. Porque nós não sabíamos se íamos ou não fazer uma série... Depois, a história aumentou, mas David precisou sair para cuidar de Coração Selvagem, e eu fiquei mais ou menos sozinho tendo que administrar 40 personagens diferentes que tinham, entre si, mais de 800 relações... Eu sabia onde eu queria ir, e, é claro, desde o início sabíamos quem havia assassinado Laura. E esse é o grande fascínio de uma série de TV, uma história por noite, é como Sherazade nas Mil e Umas Noites...” [Revista SET, Ed. 48 – ano V – Nº 6. – Julho de 1991]

Quando o piloto foi lançado em VHS, tornou-se um cult. Aqui no Brasil, a série só começou a ser transmitida pela Globo em 7 de abril de 1991, aos domingos, logo após o Fantástico. Devido à insatisfação com a audiência, a emissora passou a pular alguns episódios e logo depois cancelou por completo sua transmissão, criando uma verdadeira confusão entre os que tentavam acompanhar Twin Peaks. Para piorar, a dublagem continha vários erros de tradução, o que só ajudava a complicar ainda mais as coisas. Os brasileiros, frustrados, ficaram sem saber muitos detalhes da série e, principalmente, qual tinha sido seu desfecho real. (Afinal, aqueles eram tempos pré-internet...)  




Twin Peaks – “Picos Gêmeos”, uma expressão normalmente empregada para as glândulas mamarias femininas – é o nome de uma cidadezinha fictícia no noroeste dos EUA, quase encostada na fronteira com o Canadá. Sua poderosa economia gira em torno de uma madeireira. É num dos lagos que embelezam a região que amanhece o cadáver de Laura Palmer, uma loira adolescente que, além de namorada do capitão do time de futebol da escola, é adorada por todos os habitantes como um exemplo de generosidade. 
(Revista SET, Ed. 40 – ano IV – Nº 10 - Novembro de 1990)


Os mistérios envolvendo o crime afetavam direta ou indiretamente a vida de todos os excêntricos moradores da cidade, numa teia de acontecimentos bizarros e, por vezes, sobrenaturais. A Set de dezembro de 1990 trouxe uma entrevista com David Lynch feita por Ana Maria Bahiana. O diretor falou um pouco sobre a experiência com a série:

Ana Maria Bahiana – Muitos diretores são contra a TV. Você vê a TV como sendo um problema?
David Lynch – Eu também era contra a TV. E nunca havia sonhado trabalhar nela. Mas tive uma ótima experiência com Twin Peaks. Me deixaram completamente à vontade, na minha. Pude fazer tudo o que quis, dentro dos limites normais da televisão. E foi fantástico. (...) Sou apaixonado pelo conceito de telenovela, uma historia que continua. E isso eu pude oferecer: uma maneira de as pessoas conhecerem determinado personagem, que passa por tantas mudanças ao longo da história, uma coisa que você não pode fazer num filme.

"Twin Peaks é um trabalho importante da TV e faz uso do formato épico e de códigos típicos da telenovela, inspirados por dramas como A Caldeira do Diabo (Peyton Place) e combinados com uma intrincada história policial, elementos do fantástico e uma dose generosa de comédia do absurdo". (Masters of cinema – David Lynch, de Thierry Jousse, 2010). 

Como disse José Augusto Lemos na conclusão de sua matéria para a Set de novembro de 1990: "Seja como for, você nunca mais será o mesmo – desde os primeiros acordes da trilha assinada por Angelo Badalamenti, outra iluminada contribuição a esse passo decisivo na evolução humana que é transformar a televisão num veículo sensível e inteligente".

Há na internet uma infinidade de sites dedicados a Twin Peaks, com todo tipo de informação sobre a série. Desde os fatos mais conhecidos até as curiosidades mais inusitadas. Mas se você ainda não assistiu, muito cuidado com os spoilers na rede. Afinal, o grande charme da série é justamente mergulhar em seus mistérios. Fiz um apanhado de fatos curiosos (coincidentes ou intencionais) sobre a produção da série. Tomei o cuidado de não incluir nenhuma informação "comprometedora" aqui, ou seja, leia sem medo de estragar o suspense:

- A estampa do piso da Sala Vermelha é uma versão ampliada da estampa do chão da sala da casa do personagem Henry, de Eraserhead (1977), também dirigido David Lynch. A mesma estampa também aparece no casaco que Leland Palmer (Ray Wise) está usando no fim do primeiro episódio, quando ele dança com o retrato de Laura (Sheryl Lee). 

Twin Peaks (1990)

Estampa do casaco de Leland é a mesma do piso

Eraserhead (1977)


- O número de Hank Jennings (Chris Mulkey) na prisão é 24601, o mesmo de Jean Valjean em Os Miseráveis

Chris Mulkey viveu Hank Jennings
- Nunca é revelado quem de fato atacou o Dr. Jacoby (Russ Tamblyn) no episódio 7 mas, de acordo com Mark Frost, foi a mesma pessoa que matou Laura Palmer. 

- David Lynch e Mark Frost estavam trabalhando originalmente em uma adaptação para o cinema de Goddess, biografia de Marilyn Monroe escrita por Anthony Summers. Como não conseguiram os direitos do livro, o projeto no qual embarcaram em seguida, Twin Peaks, continha vários elementos da história de Marilyn - especialmente o fato de ela ter sido morta logo antes de mencionar em seu diário que iria contar ao mundo sobre o homem famoso e importante com quem estava tendo um caso. 


- O primeiro título pensado para Twin Peaks foi Northwest Passage. A personagem Josie Packard (vivida por Joan Chen) chamava-se originalmente Giovanna "Jo" Pasqualini Packard e seria interpretada por Isabella Rossellini, que na época namorava David Lynch. 

Isabella Rossellini e Joan Chen
- Sheryl Lee faz dois papéis: Laura Palmer (loira) e sua prima (morena). No filme Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958), de Alfred Hitchcock, Kim Novak também faz dois papeis, uma loira e outra morena. Uma das personagens se chama Madeleine, e o personagem de James Stewart se chama John Ferguson. O nome da prima de Laura Palmer é uma fusão desses dois nomes: Madeleine Ferguson. 

- A personagem Madeleine Ferguson foi criada porque Lynch estava tão impressionado por Sheryl que quis tê-la regularmente na série. Outro detalhe: na trama, a personagem está vindo de Missoula. Missoula, no estado americano de Montana, é a cidade natal de David Lynch. 

Madeleine e Laura: ambas vividas por Sheryl Lee
- A população de Twin Peaks, na concepção original, deveria ser de 5120 habitantes. No entanto, na época havia uma recusa contra séries de TV com temática rural. As redes de TV temiam que a população urbana e suburbana em ascensão nos Estados Unidos não se identificassem com programas que se passassem em áreas rurais ou cidades do interior.Por isso foi pedido à rede ABC que na placa de Twin Peaks o número da população fosse 51201 em vez de 5120. No livro Visitor's Guide to Twin Peaks, autorizado por David Lynch e Mark Frost, uma nota explica aos leitores que a população era, de fato, 5120, mas devido a um erro tipográfico, apareceu 51201. 


- O piloto da série foi originalmente exibido como um filme de duas horas para a TV, mas foi depois dividido em um episódio de duas partes para a série. Houve também uma versão para o cinema do episódio piloto, lançada na Europa.


- O agente de seguros que vai falar com Catherine (Piper Laurie) a respeito do seguro forjado se chama Walter Neff. O agente de seguros desonesto vivido por Fred MacMurray em Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944) também se chama Walter Neff. 

- Na Alemanha, a emissora de TV RTL cancelou a série após 20 episódios devido à baixa audiência. Tudo porque a SAT1, emissora rival, havia divulgado a identidade do assassino de Laura antes mesmo do primeiro episódio ir ao ar. 

- O personagem BOB surgiu quando David Lynch viu o cenógrafo Frank Silva escondido no quarto de Laura Palmer. Lynch filmou a famosa cena onde Silva aparece atrás da cama de Laura sem ter ideia de como ou por que a usaria. Mais tarde, quando filmava uma cena de Sarah Palmer (Grace Zabriskie) sentada gritando, Lynch notou que o reflexo de Silva era visível, por puro acidente. Foi aí que o diretor teve a ideia do personagem BOB como uma espécie de espírito de outro mundo, criando assim todo o mito que envolvia a série. 

Frank Silva: BOB
- Quando Twin Peaks foi ao ar pela primeira vez nos EUA, dois livros oficiais foram lançados como  prequels (narrativas anteriores ao início da série): Dale Cooper - Minha Vida, Minhas Gravações e O Diário Secreto de Laura Palmer (ambos lançados no Brasil pela Editora Globo em 1991). O Diário foi encomendado por Lynch à sua filha Jennifer, então com 21 anos, a quem ele revelou todos os segredos de  Twin Peaks para que o livro refletisse os acontecimentos da série com precisão. 




2 comentários:

Karine disse...

Nossa, faz tempo que não passo por aqui! Adorei o novo visual do blog ;)

Vou dar uma olhada nos posts perdidos, sempre descubro alguma coisa nova.

Abraços, Daniel!

Daniel Couri disse...

Valeu Karine! =D
Você, como sempre, marcando presença aqui no blog. Minha leitora mais fiel, hehehe.
Abraços!

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