Vivendo - ou melhor, vendo TV - e aprendendo. Esta semana eu estava assistindo ao Mais Você sem prestar muita atenção, enquanto tomava o café da manhã. De repente uma matéria sobre vício em redes sociais e aplicativos em telefones celulares me chamou a atenção. Não que eu seja um dos viciados, longe disso! Tenho enorme implicância com essa mania irritante da atualidade.
A reportagem do programa de Ana Maria Braga foi às ruas de São Paulo para testar o grau de vício das pessoas. E mostrou um jogo chamado "phone stacking" (empilhamento de telefone), para quem não consegue largar o celular ou smartphone nem na hora das refeições ou mesmo em uma mesa de bar. O joguinho funciona assim: um grupo de amigos empilha os celulares na mesa e tem que aguentar firme até o final da refeição (ou comemoração) sem checar os aparelhos. Quem não resistir e pegar o celular, perde a competição e tem que pagar a conta toda sozinho. Se todos resistirem numa boa, a conta é dividida normalmente.
Apesar de achar uma maluquice, é muito válida essa ideia de tentar diminuir o vício que atinge grande parte da população mundial hoje em dia. Nos Estados Unidos o "phone stacking" já virou moda, mas ainda não é tão difundido aqui Brasil. Eu sou mais radical. Por mim, os bares e restaurantes deviam proibir o uso dessas geringonças, principalmente durante uma confraternização ou um jantar. Deviam pendurar umas placas assim: "Não são permitidos animais e nem celulares". Uns quinze anos atrás ninguém era escravo desses aparelhos. Era normal se reunir com amigos para almoçar, beber ou conversar sem essa ânsia doentia para olhar mensagens do Twitter ou do Facebook.
Além de extrema indelicadeza, é uma coisa totalmente fora de propósito. Outro dia eu estava em um bar com alguns amigos e observava um casal de uma mesa próxima. Os dois devem ter permanecido lá por mais de duas horas, sentados e mexendo em seus respectivos celulares. De vez em quando pediam um vinho, trocavam duas ou três palavras e continuavam com o vício eletrônico. Pareciam muito entusiasmados. Sei que eu não tinha nada com a vida deles, mas aquilo me incomodou e me deixou muito intrigado. Por que diabos um casal de namorados, jovens e bonitos, sai de casa e vai a um bar badalado e caro para ficar feito um par de idiotas, cada um hipnotizado por seu telefone celular?
Em outra ocasião, num restaurante, um grupo de jovens em uma mesa parecia comemorar alguma data especial. Todos empunhavam seus celulares, claro. Quando os pratos chegaram (pareciam muito apetitosos, por sinal) ninguém tocou em nada. O que fizeram? Começaram a fotografar tudo, dos mais diversos ângulos. Coisa mais esquisita! Agora também é moda fotografar a comida antes de comê-la. Aliás, agora é moda fotografar TUDO pelo celular. O poste, o meio fio, a vista da janela dos fundos do quarto de hóspedes, o vira-lata no meio da rua, a xícara de café na mesa da lanchonete...
"Quero que você desligue seu celular" |
Ninguém mais parece se lembrar, mas a função primordial do telefone celular é fazer e receber ligações. Não estou cuspindo no prato em que como, afinal o celular quebra muitos galhos e tem seu lugar garantido na lista de utilidade do mundo moderno. Mas começar a viver em função disso? Conectado 24 horas por dia, 7 dias por semana? Ter a 'obrigação' de ler um e-mail de trabalho que chega às 3h30 da madrugada? Responder imediatamente as mensagens de texto de um amigo carente que resolve te contar a vida dele bem na hora da novela? Esse mundo de hoje cria as "urgências" mais malucas. Comigo não, violão. Eu mesmo nunca me dei ao trabalho de comprar um aparelho moderno e cheio de funções. Tudo o que quero (e uso) é um celular bem simples, daquele tipo que jamais será roubado onde quer que eu o deixe. Nada cobiçado, ele possui apenas as as funções básicas de um telefone móvel e é assim que eu gosto.
E aquelas pessoas que começam a telefonar para os outros antes das 8h da manhã? Chega a ser hilário. Danuza Leão explica em Na Sala com Danuza (Companhia das Letras, 2007) que é proibido telefonar antes das dez da manhã e depois das onze da noite (desde que você seja uma pessoa normal). Pena que hoje em dia ninguém respeite mais a privacidade alheia. Aliás, vale a pena ler (e reler, reler, reler) o capítulo 19 (Quem fala?), onde Danuza ensina:
Celular é uma coisa quase particular. Evite ligar para quem quer que seja, a não ser em caso de necessidade. Também não pergunte o número do celular de ninguém, a pessoa só dá se quiser. Existem algumas que dão o número para todo mundo, pois a-do-ram que, durante um almoço, o celular toque dezoito vezes, para que todos vejam o quanto elas são assediadas.
As pessoas não conseguem mais se olhar nos olhos porque eles estão sempre grudados na tela do celular, nos aplicativos, nas mensagens, nas fotos... Nos cinemas e teatros é ainda mais revoltante, fico indignado. Grande parte do público não para de checar as malditas mensagens e chamadas durante a peça ou o filme. E algumas ainda deixam o aparelho tocar! Se você não consegue ficar uma hora e meia dentro de um cinema sem olhar o celular de 15 em 15 minutos, algo está muito errado. Do jeito que estamos indo, não sei aonde vamos parar.
4 comentários:
Falou tudo, Danny!
Eu também tenho uma certa antipatia dessa dependência de celular pois também vivi em uma época em que isso nem era usado.
Depois de muita pressão, acabei comprando um celular e já sofri até preconceito de muitas pessoas por ter usado o mesmo celular por mais de 5 anos!
Puxa, que bom saber que não estou sozinho! (risos)
Também sou do tipo que só troca o modelo do celular quando ele não tem mais jeito mesmo. Meu atual celular, por exemplo, tem 2 anos. Pra mim está novíssimo, não tenho por que trocá-lo se está funcionando direitinho. Sou imune a dependência de celular hehehehe.
Há pouco mais de um ano eu desprezava as redes sociais, usava o Orkut bissextamente e fui "empurrado" a usá-lo. Desde 2007 tinha smartphone, que devido a um "grave" problema acabei abandonando-o.Sempre fã da tecnologia móvel voltei a adquiri e usar smartphone em dezembro de 2010, de cara um irmão me avisou: "Do jeito que tu é (sic), vai se viciar no Twitter e Facebook". Só faltei desconjurá-lo rs.Dezoito meses depois, eu me encaixo nos casos citados no post. Fico irritado e agoniado quando a bateria descarrega e fico impossibilitado de postar alguma imagem capturada naquele momento.Eu ficava espantado quando via alguém em shows com braços erguidos e "cutucando" o celular em vez de curtir a festa. Hoje é a primeira coisa que faço, corro em eio a multidão pra tentar pegar um bom ângulo e postar "em tempo real", seja na praia com 1,5 milhão de pessoas ou até em semáforo na iminência de "abrir". E tome check-in no Foursquare, de preferência ilustrado de uma foto que "prove" a descrição postada.Enfim, dificilmente me livrarei do vício. Mas é muito bom ler um post como esse, ao menos me ajuda a "debrear" enquanto dirijo em direção a uma "paixão 'desenfreada'".
É bem isso, Daniel, as pessoas não conseguem mais conversar umas com as outras olhando nos olhos, já que a atenção está inteiramente voltada pra tela do celular. Haja indelicadeza. Parece que o mais importante hoje é contar o que se está fazendo do que realmente curtir tal coisa. Por isso adorei essa ideia de empilhar celulares, pois o mais viciado que pague a conta! hahaha
Abraço!
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