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Onde brincam as crianças?

Sítio do Pica-Pau Amarelo
Quando eu era criança - não faz tanto tempo assim, foi nos anos 80 - a TV oferecia uma infinidade de programas infantis maravilhosos, educativos, divertidos, inteligentes e de alta qualidade. A companhia da "babá eletrônica" era garantia de momentos ótimos para a criançada. Tinha o Sítio do Pica-Pau Amarelo, A Turma do Balão Mágico, Daniel Azulay e a Turma do Lambe-Lambe, Rá Tim Bum e, já no começo da minha adolescência, a TV Colosso (na minha opinião, um dos últimos programas infantis de qualidade). Isso sem falar nos especiais da Globo como Plunct, Plact, Zuuum, PirlimpimpimVinícius para Crianças (mais conhecido pelo nome do disco que serviu de inspiração para sua criação, A Arca de Noé) entre outros.



A partir da segunda metade da década de 1980 teve início a era das apresentadoras infantis, com Xuxa reinando absoluta, seguida por Mara Maravilha, Angélica e vários "clones" de menor sucesso. Até Sérgio Mallanadro entrou nessa. Ainda era divertido, mas a qualidade foi caindo gradativamente e os programas tornaram-se muito repetitivos. Os desenhos, no entanto, eram ótimos (são tantos que nem vou começar a citá-los). Havia neles um ar de inocência e ingenuidade que fazia nossa imaginação voar alto. Pode parecer clichê, OK, eu admito. Mas os desenhos de hoje são 'adultos' demais. Têm pouca fantasia e muita violência.

Daniel Azulay (TV Cultura/TVE) e a Turma do Balão Mágico (Rede Globo)
Mas para mim o pior mesmo foi a programação infantil ter perdido tanto espaço na nossa TV. No Livro do Boni (Ed. Casa da Palavra, 2011), no capítulo dedicado à história dos programas infantis na televisão, o próprio Boni explica: "Criança não tem poder aquisitivo, portanto, não é um consumidor direto e não tem poder decisório sobre as compras. No máximo, pede alguma coisa que deseja ou repete comerciais que viu na televisão, influenciando pais e responsáveis. Para os veículos de publicidade, o que conta é o cliente. Como não existem muitos anunciantes interessados no público infantil, há cada vez menos programas para crianças. Uma pena. O engraçado é que no começo da televisão as emissoras e os anunciantes se preocupavam mais com esse público".

Rá Tim Bum (TV Cultura)
Lamento pelas crianças de hoje, que já nascem em meio à urgência e à crueza da internet. Há pouco espaço para os sonhos e a criatividade. A realidade virtual é esfregada na cara dos pequenos desde cedo, impondo desejos e quase não deixando brecha alguma para a fantasia. Tudo é "real" demais, perfeito demais, rápido demais. Só a vivência da infância é que fica de menos. Atualmente quase não vemos mais propagandas de brinquedos porque os brinquedos das crianças são os mesmos dos adultos: iPhone, iPad, smartphone, tablet... E dá-lhe internet! Com essa artilharia pesada, qual criança vai se interessar por um pega-varetas, um quebra-cabeça ou uma boneca que manda beijinhos? Livros então, nem pensar. Assistir TV? Tampouco. Em vez disso elas se confrontam, na maioria das vezes precocemente, com o mundo virtual e suas armadilhas fáceis.

E pensar que no comecinho dos anos 70, Cat Stevens, sempre visionário, já cantava: 

I know we've come a long way
We're changin' day to day,
But tell me, where do the children play?

[Sei que percorremos um longo caminho / Estamos mudando dia a dia / Mas me diga, onde brincam as crianças?]

Detalhe da capa do álbum de Cat Stevens, Tea for the Tillerman (1970)

3 comentários:

Karine disse...

Nossa, fiquei com saudade da minha infância agora! Apesar de ter crescido nos anos 90 acho que ainda peguei uma época boa da TV. Os programas de maior qualidade acredito que tenham sido os da TV Cultura (aqui no RS, TVE), como Rá-Tim-Bum, Castelo-Rá-Tim-Bum, X-Tudo, Cocoricó e o antigo Sítio do Pica-Pau Amarelo, que na época era reprisado na emissora.

Tenho pena das crianças de hoje, principalmente em relação aos desenhos animados. Prova disso é o Cartoon Network, que nem de longe lembra o que era...

Abração!

Drixz disse...

Dani, eu fico absmada como, de uma certa forma, voltamos a idade média. Sim, pq nela as crianças eram tratadas como pequenos adultos. E o pior, hoje em dia, elas estão cada vez mais dependentes do dinheiro para serem felizes. Sabem diferenciar uma roupa de marca de uma normal. A infância perdeu sua magia e sua inocência.

Daniel Couri disse...

Infelizmente é assim mesmo, Drix... Os pequenos estão cada vez mais voltados para o consumismo desenfreado, dinheiro, tecnologia e, o pior, virando caricaturas bizarras de adultos. Tornam-se "mini-adultos" precoces. Com isso, os problemas começam a surgir mais cedo também. Uma pena...

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