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Masculinas, femininas... tem diferença?


"O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou..."
(Caetano Veloso, "Alegria Alegria")



Passeando semana passada pela Livraria Cultura, resolvi entrar na seção de jornais e revistas. Estava a fim de comprar uma revista interessante. E já digo que por "interessante" quero dizer exatamente isso: que desperte algum interesse, não necessariamente algo importante como a crise na economia, a paz mundial e ou a destruição da camada de ozônio. Estou longe de ser aquele tipo que só lê publicações cult, com assuntos cabeça e de relevância nacional ou mundial. De vez em quando até leio uma matéria ou outra assim, mas no geral, gosto de revistas que distraiam, divirtam e informem o leitor de alguma forma, de preferência que não subestime sua inteligência. 

Desde pequeno ir à banca de revistas sempre foi um dos meus pequenos (grandes) prazeres. Mas de uns tempos pra cá o que tenho visto é um monte de revistas parecidas, com matérias e capas pouco criativas, para não dizer bobas. Procuro, procuro e não acho nada que me atraia minimamente. Até as revistas de frivolidades estão chatas e repetitivas, cheias de subcelebridades e testes imbecis.

As revistas femininas são TODAS iguais. É sempre a mesma capa anunciando bobagens do tipo "Os 5 segredos do orgasmo", "Nova dieta de verão para você arrasar na praia", "Você já foi traída?", "Como acabar com as cólicas", "Emagreça sem sofrer" e coisas assim. Tudo bem que esses temas exercem atração sobre grande parte das mulheres, mas será que não há mais NADA a ser explorado no universo feminino além de dietas e dicas para esquentar o relacionamento?

Na última década vimos algo parecido acontecer, só que com os homens. Começaram a pipocar revistas masculinas pelas bancas do país todo. E não é que elas também seguem o mesmíssimo padrão? A falta de originalidade é gritante. OK, não dá para ser original sempre, mas também não precisa copiar os mesmos temas descaradamente. "Como ter uma barriga de tanquinho em 15 dias", "Aumente sua massa muscular", "A dieta que vai deixar você sarado para o verão", "Acabe com os pêlos", " As 5 melhores cantadas" e por aí vai.

Se fugirmos das revistas femininas e masculinas, cairemos onde? Nas publicações GLS. As revistas gay, além de trazerem páginas e páginas de rapazes nus e depilados fazendo cara blasé de modelos entediados, só falam de "babados", "bafos" e "baladas". O conteúdo é patético e o leitor é tratado como se todos os gays fossem pessoas simplórias, sexualmente compulsivas e limitadas intelectualmente. Será que não existe um meio termo? Não estou querendo ler nenhum tratado de sociologia e nem uma análise sobre a queda da bolsa de valores. (In)felizmente ainda conservo uma boa dose de alienação. Mas nem por isso preciso ter minha inteligência subestimada, não é?
A GQ brasileira

Estou falando isso tudo para chegar à GQ (Gentlemen's Quarterly), tradicional revista masculina lançada em 1957 nos Estados Unidos e que ganhou uma versão brasileira em abril de 2011. Para quem não sabe, a GQ é muito associada à metrosexualidade. O escritor Mark Simpson cunhou o termo em um artigo para o jornal britânico Independent, sobre sua visita a uma exposição da GQ em Londres: "A promoção da metrosexualidade foi deixada para os homens do estilo das revistas como a GQ, Esquire, Arena e FHM; os novos meios de comunicação, que atingiram seu auge nos anos 80, continuam crescendo... Eles com suas revistas cheias de imagens de homens jovens narcicistas e desportivos, com moda, roupas e acessórios. E persuadiram outros homens jovens para estudá-las com uma mistura de inveja e de desejo."



A revista GQ nos anos 50 e 60
Quando folheei a edição deste mês da GQ brazuca fiquei meio decepcionado: a maioria das páginas é de propagandas (coisas caríssimas por sinal: perfumes importados, roupas de grife e bugigangas eletrônicas de última geração), as matérias são curtas e o resto são só fotos de moda, acessórios e algumas poucas mulheres seminuas, só pra lembrar ao público de que a revista é masculina! (risos) 

A GQ nos anos 70 e 80
A questão é: as chamadas revistas masculinas e femininas estão cada vez mais parecidas. Ainda mais agora, que os homens também se ligam em moda, cosmética e comportamento, temas que eram quase exclusivamente consumidos pelo público feminino até duas décadas atrás. E na boa, nem faz muita diferença ler a GQ ou a Nova. Tirando algumas diferenças, temos sempre mais do mesmo.

A GQ nos anos 90 e 2000


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