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De socialite a extremista

Patricia Campbell Hearst, mais conhecida como Patty Hearst, virou celebridade nos anos 70 no mundo todo. Mas naquela época o buraco era mais embaixo, bem diferente de hoje, com as pessoas se vendendo por qualquer trocado na ânsia desenfreada para aparecer nos meios de comunicação. Basta falar qualquer besteira no Youtube ou participar do Big Brother para ter seus 15 minutos de fama e virar "personalidade de mídia". Mas naquele tempo não, camarada.


Patty fez o caminho inverso. Ela é nada menos que neta do magnata das comunicações William Randolph Hearst (que inspirou o filme Cidadão Kane) e tornou-se famosa em 1974, quando foi seqüestrada por membros do Exército Simbionês de Libertação. Após sofrer uma lavagem cerebral, passou a adotar o nome de Tania, juntando-se aos seqüestradores num assalto a banco e inúmeros outros delitos. Ela foi um dos primeiros casos da chamada Síndrome de Estocolmo (estado psicológico desenvolvido por algumas vítimas de seqüestro, em que elas acabam simpatizando com seu captor na tentativa de conquistar a simpatia dele e podem até se apaixonar).

Patty no passado e no presente: quem te viu, quem te vê...
A Folha de S. Paulo de 19 de setembro de 1975 trouxe uma matéria detalhada sobre o caso:

A quatro de fevereiro do ano passado, Patricia Hearst encontrava-se em seu luxuoso apartamento de Berkeley, na Califórnia, em companhia de seu noivo, Steve Weed, quando foi seqüestrada. Os seus gritos atraíram os vizinhos, que logo foram imobilizados por dois homens, enquanto um terceiro, um negro, tratava de levar a filha do magnata da imprensa norte-americana para um conversível branco, que partiu em disparada. 
Patricia Hearst havia sido raptada por integrantes do Exército Simbionês de Libertação (ESL), uma organização extremista que "luta para salvar o povo que sofre". Os sequestradores exigiram 400 milhões de dólares de resgate, além de imporem à familia Hearst a condição de que deveria distribuir alimentos aos pobres e aos desempregados de toda a Califórnia, para ter sua filha de volta. 
O magnata William Randolph Hearst Junior depositou em banco 250 mil dólares, como prêmio para quem revelasse o paradeiro de sua filha. A soma de dinheiro para a recompensa subiu no final do ano para 2,5 milhões de dólares, quase o montante exigido para o resgate. Nessa época, porém, o prêmio não era mais para quem desse informações sobre Pat Hearst, mas de uma jovem de 21 anos, procurada por 18 delitos: Pat havia convertido-se ao terrorismo integrando o Exército Simbionês de Libertação. Um mês após o seqüestro, a jovem enviara uma fita gravada ao pai, afirmando que ele não havia feito o possível para libertá-la, apesar do programam elaborado pelos Hearst para a distribuição de alimentos. E dois meses depois, em outra fita, Pat afirmava que decidia "ficar com o ELS e continuar a lutar".

Imagine o bas-fond no high society americano: como os Hearst podiam admitir que a jovem, dedicada estudante de História de Arte, havia renunciado ao noivo e à fabulosa herança da família? Patricia passou a ser a pessoa mais procurada dos Estados Unidos e sua busca mobilizou milhares de agentes policiais e do FBI. Meses depois a polícia cercou uma residência em Los Angeles e matou os guerrilheiros do ESL durante um tiroteio. Mas nada de Tania.

Em meados de 1974 o FBI conseguiu finalmente capturá-la em San Francisco, após muito trabalho, informações falsas e especulações mundo afora. Durante seu paradeiro, a jovem gravava fitas e as enviadas para emissoras de rádio e para a família Hearst, dizendo que havia "renascido" no dia 4 de fevereiro e que não tinha "medo de morrer".

Em março de 1976 Patty foi condenada a 35 anos de prisão, mas teve sua pena reduzida para 7 anos e, antes mesmo disso, recebeu um indulto do então presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, em fevereiro de 1979. Dois meses depois se casou com Bernard Shaw, seu ex-guarda-costas, com quem teve duas filhas.

Em 1988 a história de Patricia ganhou uma versão cinematográfica com o filme O Seqüestro de Patty Hearst, de Paul Schrader (que dirigiu Gigolô Americano e A Marca da Pantera, entre outros). Quem fez o papel de Patty foi a britânica Natasha Richardson (morta em 2009 após um acidente de carro; esposa de Liam Neeson). O filme foi baseado na autobiografia de Patty, Every Secret Thing, lançada em 1982.

Natasha Richardson e Patty em 1988

Desde então Patty virou uma espécie de ícone pop e musa do diretor de cinema John Waters, famoso por ser o papa do kitsch. Patty atuou em vários filmes dele como  Cry Baby (1990), Mamãe é de Morte (Serial Mom, 1993), Pecker (1998) e Cecil Bem Demente (Cecil B. DeMented, 2000), além de várias participações em seriados de TV.

John Waters e Patty
Para apagar de vez qualquer mal estar (?) que ainda pudesse pairar sobre a conservadora sociedade americana, ela recebeu do presidente Bill Clinton total perdão por seus crimes, em janeiro de 2001. Hoje, prestes a completar 58 anos, Patty vive a típica vida amena de uma socialite e herdeira de uma imensa fortuna. Suas atuais aventuras, além de aparições esporádicas na TV, nem de longe lembram os atos de terrorismo do passado. Entre seus feitos recentes mais anárquicos destaca-se o prêmio que sua cadelinha Diva recebeu no festival "Westminster Kennel Club Dog Show", em Nova York. Como diria Narcisa, "Ai que loucura!"





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