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"Rastro aproxima as pessoas". Lembra?

Não tem como não sentir o cheirinho de Rastro e não se lembrar da infância - isto é, se você tem no mínimo 30 anos. Houve um tempo (adoro esse começo) em que os mais chiques e clássicos não podiam dispensar a colônia Rastro.

A história começa em 1956, quando o estilista e artista plástico Aparício Basílio da Silva abriu a Rastro, uma glamurosa boutique na Rua Augusta, em São Paulo. Naquela época o endereço era o crème de la crème da capital. Em sociedade com uma amiga, começou vendendo praticamente tudo na área de roupas e adereços, muitos desenhados por ele próprio.

Durante anos, no entanto, ele alimentou a idéia de lançar uma fragrância de qualidade, mas com um toque de brasilidade. Queria que seus clientes buscassem o requinte dos perfumes importados em uma marca nacional. Após muito trabalho, em 1965 Aparício lançou, com o irmão João Carlos, químico, a água-de-colônia Rastro, que entrou para a história dos hábitos de consumo da sociedade brasileira. O sucesso foi imediato.

Rastro é considerado o primeiro perfume 100% nacional e uma grande inovação na época. Não demorou muito para que a colônia se tornasse objeto de desejo e fosse procurada por todos. Por muito tempo o perfume manteve a característica de ser fabricado quase artesanalmente.

Em 1978, quando a ditadura ainda vigorava no país, uma campanha publicitária para promover o perfume deu o que falar: "Contatos irresistíveis de primeiro, segundo, terceiro ou qualquer grau. Rastro". Três fotografias estampavam três propagandas impressas diferentes: a de um elegante casal, a de uma cena de carícia entre duas mulheres e a de um jovem e um homem de meia idade posando juntos. Uma ousadia para a época.


A cor da embalagem do perfume Rastro – rosa-choque – encantava as mulheres, apesar de ter sido o primeiro perfume nacional realmente voltado para o universo masculino. Nos anos 70, com a volta da moda dos aromas florais, Rastro viveu seu auge. Nos anos 80, os aromas orientais (fragrâncias fortes) é que dominaram o mercado, mas ainda assim o Rastro se manteve bastante popular.

Só para facilitar a compreensão, uma explicação rápida da revista Galileu:

Um perfume possui três notas (cheiros) principais. O tipo de perfume depende da quantidade de cada nota.

1 - As notas de cabeça são responsáveis pelo primeiro cheiro que a pessoa sente quando abre o perfume. Elas evaporam rapidamente. Ex.: Cítricos.

2 - As notas de corpo ou coração são as que classificam o perfume. Elas dão o cheiro das primeiras quatro horas após a aplicação da fragrância. Ex.: Florais.

3 - As notas de fundo ou base são as mais densas, que impregnam a pele após um longo período. Ex.: Amadeirado.
Seguindo nosso Rastro novamente, a popularidade da marca foi perdendo terreno no começo dos anos 90, principalmente quando seu criador, Aparício, foi brutalmente assassinado em 1992. A marca foi transferida para a Dorsay Monange e os produtos perderam o glamour das décadas anteriores. Em 2007 a marca passou para as mãos da Hypermarcas, que comprou a Dorsay-Monange.
Aparício Basílio da Silva
Muito antes do termo "celebridade" virar lugar-comum, Aparício já era o que chamamos hoje de celebridade. Escultor, perfumista e presença constante em festas e badalações, reinou dos anos 60 até o começo dos 90 nas altas rodas ("O segredo é surgir, sorrir e sumir", gabava-se ele). Chegou a presidir o Museu de Arte Moderna e escreveu críticas de arte, mas sua fama foi mesmo o Rastro, sua marca registrada.

Foi encontrado morto em um terreno em São Bernardo do Campo (SP), com 97 perfurações, após uma noitada em uma boite gay da Rua Bela Cintra, em São Paulo, em 19 de outubro de 1992. Tinha apenas 56 anos. Dois homens e uma mulher foram presos pelo crime.

Difícil pensar que Aparício - considerado um dos homens mais elegantes de São Paulo em sua época - criou o primeiro perfume brasileiro e hoje tanto seu nome quanto o de sua criação são praticamente desconhecidos da maioria da população do Brasil. No entanto, sempre que quero revisitar algum cantinho recôndito de minha infância, abro meu vidro de Rastro e borrifo um pouquinho no pescoço.

Para os nostálgicos como eu, atualmente o Rastro pode ser comprado em algumas farmácias espalhadas pelo Brasil, mas não é tão fácil como antigamente não. Além da colônia, complementam a linha o sabonete e os desodorantes aerossol, spray, neutro e roll-on. Mas dê-se por satisfeito se conseguir encontrar ao menos a colônia.

3 comentários:

SANDRA MIRANDA disse...

Nossa dany, realmente eu não sabia nada dessa história e nem do seu criador.

SANDRA MIRANDA disse...

Voc~e realmente me aproximou do Rastro!

Débora disse...

Daniel,
Ler você é te ver de novo, Você manteve suas características de adolescente. É como se eu estivesse vendo o Daniel de mtos anos atrás aqui na minha frente.
Segunso minha coordenadora pedagógica, eu sou um retirante em termos de tecnologia, então ainda não tinha aberto seu blog...
Mas foiu mto bom te "ver" tão de perto!

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