Se eu disser o nome Maria José Dupré é capaz de muita gente se lembrar dos livros A Ilha Perdida ou Éramos Seis, durante vários anos os carros-chefe da Série Vaga-Lume (coleção de livros lançada pela Editora Ática a partir de 1972, com obras voltadas principalmente para o público infanto-juvenil). Claro, Maria José Dupré é a autora dos livros. Lembro-me que li Éramos Seis quando tinha uns 11 anos e fiquei muito envolvido pela história. Alguns anos depois, em 1994, o SBT produziu uma das melhores telenovelas brasileiras, Éramos Seis, baseada no livro. (A TV Tupi já havia feito o mesmo 1977).
Mais de 20 anos depois de ler A Ilha Perdida e Éramos Seis, me deparei com Gina, da mesma autora. E fiquei igualmente fascinado. Ao mesmo tempo, me dei conta de como essa grande autora brasileira é subestimada. Infelizmente as novas gerações têm cada vez menos contato com os livros, principalmente depois da invasão esmagadora da internet. A Série Vaga-Lume, tão popular entre os anos 70 e 90, é praticamente desconhecida dos jovens hoje. Quando eu estudava, os livros dessa série eram sempre pedidos nas escolas e mesmo quando não eram, líamos assim mesmo.
Meu "reencontro" com Maria José Dupré não poderia ter sido mais feliz: Gina prende o leitor do começo ao fim. É impossível não se sentir impelido a ir fundo na saga da personagem-título e a torcer por ela. A orelha da edição de 1978 do livro diz: "Gina é um romance chocante, humanamente chocante porque nos faz refletir sobre nossos critérios de valor. Nele, preconceitos e estereótipos são sentidos na alma e na carne de uma menina 'ultrajada pela existência', como diria Dostoievski".
A descrição continua: "Este romance faz bem a todo mundo, principalmente aos que julgam as pessoas pelos atos, independentemente das circunstâncias e da influência do meio ambiente. Quem se interessa por conhecer melhor as pessoas, encontrará em Gina um manual vivo de Psicologia. Ali estão os mais variados tipos de pessoas, cabalmente descritos pela pena de Maria José Dupré que o crítico Roberto Alvim Correa colocou ao ao lado de Máximo Gorki".
Assim como já havia feito em Éramos Seis, em Gina a autora consegue colocar o leitor tão perto dos personagens que é como se ele estivesse realmente convivendo naquela realidade descrita na história. Foi a mesma sensação que tive ao ler Éramos Seis. Impossível não se sentir tocado. No artigo Livros Esquecidos II, a escritora e crítica literária Maria Lúcia Silveira Rangel explica:
Maria José Dupré (Senhora Leandro Dupré) é a nossa Margaret Mitchell. Tal como a autora norteamericana com seu livro “...E o vento levou”, a obra literária de Maria José Dupré é tão atrativa que prende o leitor até o final do romance.
Ignoro se ainda perduram ecos do retumbante sucesso literário de Margaret Mitchell, o mundo atual se caracteriza pela velocidade, valendo apenas o hoje que será obumbrado pelo amanhã inexorável.
A nossa escritora com seus inegáveis méritos parece um tanto esquecida e nada é mencionado sobre seus romances que alcançaram grande sucesso na época em que foram escritos, tendo sido “Éramos seis” transformado em novela e em filme argentino.
Seu estilo, com notável poder descritivo, a trama conduzida antes pelos diálogos vívidos que pelo aprofundamento íntimo, traduz, no entanto, uma real agudeza no que se refere ao conhecimento psicológico e à sensibilidade dos personagens.
Maria José Dupré (Sra. Leandro Dupré) |
Maria José Dupré nasceu em 1898 em Botucatu (SP) e morreu em 1984 em Guarujá (SP). Sua primeira obra de ficção, publicada em 1941, foi O Romance de Teresa Bernard. Seu maior êxito literário, no entanto, continua sendo Éramos Seis (1943), premiado pela Academia Brasileira de Letras. O curioso é que, embora Éramos Seis tenha sido adaptado várias vezes para a televisão, sempre com sucesso, o mesmo não aconteceu com Gina.
Gina chegou a ser adaptada para a televisão em 1978, por Rubens Ewald Filho e Sílvio de Abreu (que já haviam adaptado Éramos Seis no ano anterior para a Tupi). Mas Gina não obteve sucesso no formato telenovela devido a uma série de problemas estruturais, como explica Nilson Xavier no site Teledramaturgia.
Fica então a dica: quando você estiver cansado da profusão de novidades literárias que nos são empurradas goela abaixo diariamente, dê uma olhada em Maria José Dupré. Tenho certeza que a surpresa será boa.
3 comentários:
O único livro que li de Maria José Dupré foi "Éramos Seis", mas tenho bastante curiosidade de ler "Gina"! Já está na minha lista de livros para ler em breve :)
Ah! Adorei o texto! E to na fila pra vc me emprestar o Gina! =D
Saudades, swettie!
bjao
A ilha perdida foi o primeiro livro que eu li depois eramos seis tinha apenas 9 anos nunca mais parei, fiquei curioso em ler gina, se é da Maria José Dupré deve ser otimo. Bjs.mos seis tinha apenas 9 anos nunca mais parei, fiquei curioso em ler gina, se é da Maria José Dupré deve ser otimo. Bjs.
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